terça-feira, 28 de dezembro de 2010

Iemanjá


Quando falares com ela, a Rainha do Mar,
não esquece de colocar um barco com flores,
perfume, pente e missangas e um desejo.
Deve ser doce, como os óleos que passarei no teu corpo,
deve ser terno como a minha mão na tua pele,
ardente como a espera de um marinheiro no cais,
perfumado pelo suor do teu abraço,
forte como a palavra que guardo e digo,
derramada inteira, na hora do gozo.

Mas se não quiseres falar, cala.
Faz esquecer as horas que não tivemos,
das risadas por nada e dos dias de marujo.
Fica quieto, mudo como um caracol,
lento como a lua cheia, invisível e leve,
dissolve as noites junto do vento sul.
Levada pelo mar, morrerei de cansaço, mas...
manterei postura altiva e olhar perdido
no pedido de um outro Ano Novo.


Café da Silvana

segunda-feira, 27 de dezembro de 2010

Poesia


Mesmo que não haja terra,
além do abismo que o mar esconde,
mesmo que o sonho vire vento
assombrando lago e ilha,
e o azul assinale o fim,
tens a mim, líquida e terna.

Entre o sal e o rio onde
sombras beiram os medos, entro.
Te rodeio oculta, submersa quilha,
tens a mim!

Assim te quero, e por querer,
assim me queres, como sombra,
sob tua clareza e verdor,
coração único, sim.

sexta-feira, 24 de dezembro de 2010

El mar


Antes que el sueño (o el terror) tejiera
Mitologías y cosmogonías,
Antes que el tiempo se acuñara en días,
El mar, el siempre mar, ya estaba y era.
¿Quién es el mar? ¿Quién es aquel violento
Y antiguo ser que roe los pilares
De la tierra y es uno y muchos mares
Y abismo y resplandor y azar y viento?
Quien lo mira lo ve por vez primera,

Siempre. Con el asombro que las cosas
Elementales dejan, las hermosas
Tardes, la luna, el fuego de una hoguera.
¿Quién es el mar, quién soy? Lo sabré el día
Ulterior que sucede a la agonía.

terça-feira, 21 de dezembro de 2010

Metade



Dividi em dois o que era inteiro,
escolhi uma das partes,
a outra joguei fora.
Quitei dívidas, virei metade,
com a verdade de quem pega o melhor.
Como quem não tem certezas,
agora procuro o pedaço,
que de mim quer inteira.

sábado, 11 de dezembro de 2010

Satélite & Lira




Satélite e lira,
Vê a sina, a minha aflição...
Cresce na luz prata que a nuvem cobre.

A ausência que fazes, meu namorado,
No escuro da noite em torno dos dias.
As noites em claro, janelas sem primavera...

Em toda a flor que não nasce, porque não estás.
Vê, meu amado, quero de novo as noites de noiva,
As horas de paixão!

Na mira da chuva o estalido abafa,
Rebenta a corda num alto dó.
E só minha canção, lua sem coração,
Se alteia na paisagem nua.

POLA


A diva muda
a...duma vida...
ávida muda

terça-feira, 7 de dezembro de 2010

sexta-feira, 26 de novembro de 2010

A QUEM INTERESSA A GUERRA?


Cheguei de São Paulo toda lampeira, entusiasmada com a intensa movimentação literária, mas a situação no Rio conseguiu esmorecer esse entusiasmo. Não há entusiasmo que resista aos transtornos e tragédias da guerra. Tragédias pequenas, pessoais, de pequena repercussão. Filhos perdidos, vidas marcadas.

Os arrastões freqüentes em vários pontos da cidade já surgiam como resultado da política de "pacificação" das favelas cariocas, onde os pobres vivem acuados, entregues à lei do mais forte, seja polícia ou bandido.
Seria uma ingenuidade pensar que depois de perder mercado os traficantes não fossem buscar outras fontes. Aliás, se não fosse contra a lei isso tudo seria chamado de "empreendedorismo".

A televisão, o governo, grande parte da população apóia as ações belicistas e mostrou isso nas urnas, mas eu sigo pensando que ante a impossibilidade de impedir o avanço das drogas (a todo instante uma droga é inventada) a única solução pacífica é legalizá-las, e não fazê-lo, se não é burrice, é puro interesse pelo dinheiro (que não é pouco), que sustenta a corrupção.
A legalização seria o verdadeiro golpe no reinado do tráfico. É claro que não impediria o crime, mas certamente a lei serviria para organizar o mercado, captar recursos e investir em educação, que é o de que mais precisamos.

A operação de guerra montada pelas polícias do Rio e as forças armadas desencadeada no dia 25 e considerada um SUCESSO REPRESSIVO, não impediu, no entanto, que cinco veículos fossem incendiados durante a noite e não impedirá que o monstro criado com migalhas por uma sociedade racista e desigual tenha crescido, em força e raiva, e agora jogue seus tentáculos sobre a cidade que o ignorou. Tudo era previsível, e até demorou.

Durante toda a cobertura sobre os episódios assustadores que a cidade enfrenta não se ouviu uma única voz (sim, elas existem e são muitas) falando sobre a possibilidade de um novo modelo de política relativa às drogas. Parece que a guerra também dá barato. Tudo é feito como se confronto, repressão, prisão e morte fossem as únicas soluções para a segurança.
E vocês sabem que a gente colhe o que semeia. Querem guerra, aí está. Quanto estará custando? E quanto valem as vidas já perdidas?

PS. Ao recomendar que a população da Vila Cruzeiro se protegesse nos momentos da ação da polícia o jornalista da Globo disse que as pessoas não ficassem nas janelas e fossem para os corredores das casas.
Corredor, meu filho? Nunca subiu a uma favela e não sabe em que espaço habitam os pobres.
Talvez seja isso que assegure uma política equivocada. Tratam do que não conhecem. E quando conhecem, é só teoria.

segunda-feira, 22 de novembro de 2010

Monsaraz


Que cor tem a luz que luz
ocre sobre branco,

sol sobre céu,
o lilás dos dias parados
?

Leve abismo sem cair,

Muros claros de pedra sobre pedra
enraizada ao sul.

Há crespos arbustos ressequidos de dentro deste sobre,

saindo para as calçadas,
como saem as viúvas enegrecidas,

lenço, vestido e sapato comendo a claridade.

À frente, estendida e verde,
fresca como gota de chuva na palma da mão,
a sombra de Monsaraz.

Do templo, arco, areia e cal,

e a única lembrança de nunca ter saído

do labirinto embriagador da memória.





Dos diversos instrumentos inventados pelo homem, o mais assombroso é o livro;
todos os demais são extensões de seu corpo.
Só o livro é uma extensão da imaginação e da memória.


sexta-feira, 19 de novembro de 2010

segunda-feira, 8 de novembro de 2010

Na janela



Fico na janela
como quem lembra ter plantado amores-perfeitos,
meu bem, meu mal,
debruçada na memória do pretérito imperfeito...
Minúsculo universo,
soleira e convergência
das ciências ocultas nos teus olhos.
Abraço o sagrado,
o eu enamorado do tempo
passa cego junto da fortuna.
Não devia ter despertado sob o teu signo,
nem ter juntado pedrinhas sinalizando o futuro.
Fico dentro,
bebida no fio de luz,
veneno que nos une,
tomado vagarosamente como porto seguro.
Fico fora
como reflexo de outro som,
ouro e sina de cantador barato na calçada.

Sigo sombra e herdeira.
Há beleza na palavra que não sei dizer.

INVERNO

quarta-feira, 3 de novembro de 2010

sábado, 30 de outubro de 2010

sexta-feira, 29 de outubro de 2010

De Helena Ortiz

FERREIRA GULLAR - ELEIÇÕES POESIA E DROGAS

Todo o mundo já deve ter lido a entrevista de Ferreira Gullar abrindo seu voto para Serra e a inevitável repercussão.

Dediquei-me ler os comentários sobre a entrevista em vários blogs que a publicaram e acho que o povo está sendo muito severo com o poeta.

Os adjetivos usados são os piores - aqueles que a gente usa quando quer desmoralizar o desafeto. Velho é o mais usado, querendo dizer com isso que deve estar gagá, ou acometido de alguma doença que lhe altere o raciocínio, embora ele esteja, como diz, aos 80 anos, gozando da mais perfeita saúde, e recebendo prêmios.

Não se trata aqui de defendê-lo porque é poeta. Trata-se de compreender que uma pessoa muda de posição e tem direito de mudar. Equivoca-se com o que quer se equivocar. E até se destempera, se lhe dá na telha.

Penso que Gullar e sua poesia foram importantes para o Brasil num determinado contexto histórico. Passado isso, Gullar teve que cuidar da vida, e seguiu em frente. Foi ganhando espaço até chegar a um momento em que foi considerado o mais importante poeta vivo do Brasil - o que seu passado de luta muito ajudou. Mas foi considerado por quem? Nunca se sabe. Pela mídia? Pelo universo de leitores de poesia?
E então, o que aconteceu? Mudou de turma. Ficou livre para ser (sempre foi) amigo de Sarney (deve ter sido Sarney quem lhe disse que no nordeste não existem pobres, conforme está na entrevista), e é colunista da Folha. (Algumas idéias expressas na entrevista parecem vir de editoriais). Não é por nada que Jabor é lembrado junto, quando se trata de dar exemplo de quem mudou de idéia.

Mario Vargas Llosa acabou de ganhar o Nobel e não vi ninguém se insurgindo contra o fato porque ele seja de direita, seja lá o que isso for, mas chamemos de direita o reacionarismo, a rejeição ao novo, o medo dos avanços. Talvez porque Vargas Llosa seja, mundialmente, considerado um escritor enorme. Não sei se Gullar é tão grande como poeta.

Além de votar no Serra, Gullar é contra a legalização das drogas. Tem seus motivos, mas são motivos particulares, e considero no mínimo egoísta querer impedir que uma multidão de usuários deixe de ser perseguida pela polícia porque em algum momento ele mesmo, ou qualquer pessoa com a mesma opinião, precisou lidar com problemas decorrentes. É o mesmo caso de alguns psicólogos e afins que são contra as drogas porque recebem em seus consultórios muitos dependentes. Ora, o universo dos consultórios é mínimo em relação ao número de usuários. E é melhor frequentar consultórios do que cadeias, não é mesmo? Até mesmo para os psicólogos.

Dito isso, considero que a ofensa não é a melhor política para o período que antecede as eleições; que Gullar, se não é nosso maior poeta vivo, ao menos está vivo e é uma voz dissonante. A maioria dos poetas e intelectuais está fora do debate. No máximo, assina listas. E afinal, sempre fui contra o pensamento único.

Quanto a mim, votarei por minha tia, que morreu querendo votar em Dilma. Farei isso por ela porque nela, sim, eu acreditava. Votarei na mulher que Dilma é, com seu passado de militante e sua coragem de enfrentar tantas forças num universo de homens - coisa difícil.

Espero, no entanto, que reveja muitas posições em relação às quais se atrapalhou durante a campanha, imagino que em virtude das abomináveis alianças. De resto, é esperar.
E rezar.



Crente
eu também sou.
A poesia é minha religião.
O sol, meu deus.
A maconha, minha hóstia.
O silêncio, minha igreja.
E meu corpo,
altar para o milagre cotidiano

Dúvidas eu só tenho
sobre quem não duvida

segunda-feira, 18 de outubro de 2010

domingo, 17 de outubro de 2010

Lançamento do livro "De Guaxos e de Sombras"

Lançamento do livro "De Guaxos e de Sombras"

A profª Drª Joana Bosak lança no StudioClio o livro "De Guaxos e de Sombras", um ensaio no qual propõe a análise da permanência do gaúcho como portador de uma identidade regional e cultural em nossos dias. O arquétipo, que teve origem nas fronteiras da história do Rio da Prata, segue em desenvolvimento muito peculiar no Rio Grande do Sul. A reflexão propõe, portanto, indicar uma origem, um processo de construção identitário, um sentido de permanência, e ainda vislumbrar suas metamorfoses ao longo do tempo.

Saiba mais.

Com
Joana Bosak
Data 27 de outubro, quarta-feira
Horário 19h30

Patrocinador:

"de guaxos e de sombras"

quinta-feira, 14 de outubro de 2010

terça-feira, 5 de outubro de 2010

orquídeas

CONVIDA PARA O

Pocket show com Wanderley Falkenberg

& participação especial de Toneco da Costa

09 de outubro de 2010, sábado, 19h

Na Palavraria

Desde 1977, Wanderlei Falkenberg se encontrava radicado no centro do País, atuando como publicitário. Agora retorna, para mais uma vez dar sua contribuição à nova – e tão rica – fase que a música gaúcha vive no momento. Neste pocket na Palavraria, apresenta-se acompanhado do músico Toneco da Costa, seu amigo e parceiro de composições.

Embora Wanderlei Falkenberg já fosse um nome conhecido no meio musical estudantil de Porto Alegre, sua carreira como compositor firmou-se a partir de 1968, quando, aos 19 anos, teve duas músicas suas classificadas entre as finalistas do I Festival Universitário da Música Popular Brasileira, promovido pela Faculdade de Arquitetura da UFRGS. Uma delas, “Canto do Encontro”, foi escolhida como 3ª colocada entre mais de 20 finalistas participantes. No mesmo ano, Wanderlei, em parceria com Luiz Sant’Anna, foi também finalista da etapa gaúcha do festival de nível nacional aqui promovido pela então TV Gaúcha (hoje RBS). Título da sua música: “Sexta-feira 13”. Já em 1969, quando do II FUMPB, Wanderlei esteve novamente entre os primeiros colocados, conquistando a 5ª colocação com “Dia Um”, novamente em parceria com Sant’Anna. A partir daí, paralelamente ao seu trabalho como compositor e produtor de fonogramas musicais publicitários, Wanderlei criou e participou de algumas das mais marcantes iniciativas, na música do Rio Grande do Sul: o grupo “Mordida na Flor”, que buscava uma renovação/atualização da nossa temática musical; o espetáculo musical “Amelita – Cabeça, corpo e membros”, com Cláudio Levitan e alguns dos grandes músicos do pop gaúcho; “Própolis – Cidade a Favor”, com seu múltiplo parceiro Giba-Giba e outros nomes de peso.

Toneco da Costa é violonista, arranjador, compositor e diretor musical. Autor de trilhas para teatro, dança e publicidade. Ao longo de sua carreira, desenvolveu importantes trabalhos com Ayres Potthoff, Nelson Coelho de Castro, Fernando Ribeiro, Gloria Oliveira, Jeronimo Jardim, Pedro Figueiredo, Paulo Gaiger, Pery Souza e Lourdes Rodrigues, entre outros. Recebeu o Prêmio Açorianos como arranjador em 1994, 1995, indicação em 1998, 1999 e 2010. É autor de trilhas para teatro, dança, publicidade e vídeos, com destaque para a música da peça Crônica da Cidade Pequena, do grupo Tear, ganhadora dos prêmios Açorianos e Mambembe - Inacen/Ministério da Cultura em 1985, composta em parceria com o flautista Ayres Potthoff. Desde 1994, atua como violonista e diretor musical do Grupo Vocal Muito Prazer, quarteto que se dedica à MPB e que tem se apresentado em projetos como o Pró-Arte, Música nas Esquinas e Música na Catedral, em cidades do interior do Estado, e em Porto Alegre, no Café Concerto Majestic, Teatro Renascença, Teatro Bruno Kiefer e Sala Alvaro Moreyra. Em 2009, lançou seu primeiro CD solo: “Inverno”, obra instrumental que registra todo o seu talento e concepções musicais com rara fidelidade.

Palavraria Livros & Cafés

Rua Vasco da Gama, 165 - Bom Fim

90420-111 - Porto Alegre

Telefone 051 32684260

palavraria@palavraria.com.br

segunda-feira, 4 de outubro de 2010

sábado, 2 de outubro de 2010

o fotógrafo


examinei com lupa teu dom de clicar imagens
e vi, como numa pintura rupreste
a história contada pelo tempo, a respiração
lenta que circula na água que a terra bebe
e que se umedece na cal do teu olho,
são manchas que não se extinguem com o rumor
da lente, são marcas que se exibem como
cicatrizes a mostrar o efêmero caminho
que percorres no sal da eterna busca;
nada se move além da imaginação.
da parede ruína, uma claridade diz do pesar,
da tua passagem peregrina,
a melhor luz, o melhor ângulo, o foco
da divindade, aceso para a tua eternidade,
o criador da sua semelhança,
ainda que bastarda.

sexta-feira, 1 de outubro de 2010

Flor no chão


Flor é pro galho,
pro vaso,
enfeitar o dia,
a casa,
alegrar, lembrar,
bem-me-quer,
mal-me-quer
a flor no chão
não-me-quer

Maria-faceira


Maria-faceira
Cara azul
Bico rosado
Esgueira
Maneira
Espia o rio:
Espelho, espelho meu.
Há neste mundo
Ave mais bela que eu?

quarta-feira, 29 de setembro de 2010

"de guaxos e de sombras"


fotografia



ruínas

velhos jardins

ruminam

no obsoleto

estruturas em desuso

manchas de umidade

sombras

escombros

restos de obra

caliça

desolação e invisibilidade

tecida no osso

aspiras um pequeno olhar de glória

no sétimo descansas

1/4

denso dentro fecho

o punho e penso

pesa a unha?

no risco arranha afunda

o sulco da densidade

sangra

a palavra,
lavra mesmo?

O mistério das portas fechadas


Atrás de uma porta fechada, o mistério...
ao abrir estará escuro e olharei,
como quem sonha com a infância.
Aos poucos, no meio da névoa, caminharei
com a pequena lanterna posta na entrada.
Nâo sei se o que verei será memória ou imaginação.
A rua de paralelepípedos ao lado do quartel,
onde não havia marcha soldado, mas o chico, que
cozinhava para o batalhão e, que da janela contava
as receitas do arroz com feijão.
Na esquina, correndo como criança, o canalete,
minúscla invenção das navegações ciganas.
Como cais, coroas de cristo evitando quedas
e rotas alternativas.
Havia, sim, mais ao longe um acampamento
de andarilhos, no qual as crianças sumiam
se de lá se aproximassem. E como queria, e como
não queria, para lá me aventurar! O eterno medo
que os pais tem de não ver seus filhos no fim do dia.
Duma esquina à outra esquina, dois corações assombravam
o mesmo peito. Da família daqui, a moça namorava
na garupa da lambreta, logo se casou e logo se desquitou.
Na família dali os irmãos trapezistas incendiavam o jardim
numa árvore feito barra, os grandes pulos riscando o céu.
Do muro do meu quintal, o papagaio do major salvador,
cantava a ave-maria, aprendida com outro colega,
morador da casa do bispo, de erudita audição
que também mesclava, vai à merda, entre bicadas no meu irmão.
Através da porta entreaberta, uma luzinha, um caminho,
um pouquinho que contarei outro dia em que chegar
este aperto ao olhar, fotografias de portas antigas
fechadas num velho galpão.

segunda-feira, 27 de setembro de 2010

Fátima Guedes e Elis Regina - Meninas da Cidade

São 12 pancadas, 12 badaladas

Sol a pino, a telha vã
Esquenta o pó da minha casa
Esquenta a bilha d'água
De tanto que ferve na minha mão
Agulha e pano, armas de todo dia

Na minha mão
Tesoura e fé
E pé
na mesma tábua em falso
Destino e pé descalço
Desde manhã sentada e presa aqui
Rasgando as sedas das rainhas
Os brancos das donzelas
Que no escuro da cidade alguém há de despir
Ninguém verá tão belas
Filhas da falsidade

A vila é tão pequena e infeliz sem elas que...
Que são doze pancadas,
são doze ruelas
Que desgraçadamente sempre vão dar
Numa mesma praça seca, de noite suspirada,
De noite tão imensamente farta das paixões do dia.
De noite suficientemente larga pras bandalharias.

Meninas que se vêem chegando aqui:
cinturas ainda finas;
medir felicidade.
No rosto a marca dos batons
das senhoras de bem, as damas da cidade.
No peito arfante
O roxo das mordidas mais ferozes
Filhos da mesma terra,
andantes e viajores,
rapazes e senhores de mais realidade.

São doze pancadas, já são doze dadas.
A lua a pino,
e eu já sei que vou entrar na madrugada
rematando bainhas,
pregando rendas que amanhã vai ser o baile das rainhas.
Amanhã já se sabe que elas vão fazer a história da cidade.
São muito Cinderelas.

ONDE

distante o mar,
o cais, a areia,
no horizonte
crescente deserto,
planando no entanto,
ainda gaivota

na linha,
perdeu-se onde havia

amarelou no cerrado,
flor e flor rebentou,
peneira o polén
pássaro incerto,
onde? aqui e ali,
a pena devota

no chão,
farelo, e o sol a pino

indo-se adentro
avivo chama e nome,
o nó da heresia desatou,
corre na armadilha
distante do mar

à seca,
junta-se a maresia

sexta-feira, 24 de setembro de 2010

A LUA NOS TEUS OLHOS


sobe, lenta, a lua
além do morro da pescaria
o mar, na cheia, sustenta
nas silhuetas das águas
a luz que roubou o dia
enquanto num canto da praia
brilha, um quartzo, na areia

quarta-feira, 22 de setembro de 2010

sábado, 18 de setembro de 2010

Setembro


É setembro,
ainda te quero,
como a terra que cobrirá meus passos,
como os botões que se abrirão todos os dias,
de agora, até findar o horário regulamentar.
No hemisfério sul, em câmera lenta, sento e te espero
na sombra de outubro.
Silêncio,
ainda no ovo,
vibra
um coração pequeno.
De dia,
o vidro do céu,
quebra,
a cada ventania.

Quadrinhas se fazem no tempo
dentro do tempo,
ainda te quero, obscura e sedenta,
despida de novo.

Os ritos nem serão percebidos,
cadeiras permanecem nas salas mesmo depois da vida.
Ainda te espero, com a infância que guardo,
junto de leituras hieróglifas,
na beira de um alto, com frio no ventre.

É setembro, devo acordar,
ainda te escuto passando rente ao muro da minha pele.
Ainda respiro teu hálito subterrâneo,
ainda deito num tapete envelhecido de mãos hábeis
que moldam a umidade.
Ainda te quero, colhida pela premonição,
levada pela guia que saberá o fio desenredar.
Teu cão olha nos meus olhos e te reconhece.
É setembro e logo não será,
ainda que nunca mais,
te quero.

O ataque de Beta

quarta-feira, 15 de setembro de 2010

PELO URUGUAY


sol entrar,
desembarcar
da carne iluminada do dia,
dizer nada dizer tudo.
a palavra anuncia,
é caminho onde navego
onde não quero onde quero
bendito bento onde cala
depois do cais, a alquimia,
chegar clicar partir ficar
reses, fantasmas de fronteiras,
rezas bandeiras doutra história,
tens na imagem, purpura e ousadia,
e o sonho que te liberta.

segunda-feira, 13 de setembro de 2010

I ♥ Paris by Karissa Van Tassel (fotógrafa americana), o coração formado pelas árvores é um achado! Ao fundo, o Louvre. No centro, pai e filho a caminho da escola.

domingo, 12 de setembro de 2010

Nada mais que a lista dos filmes de

Claude Chabrol, a rever!


Ano Título original Título no Brasil Título em Portugal

1958 Le Beau Serge Nas Garras do Vício

1959 Les cousins Os Primos

1959 À double tour Quem Matou Leda?

1960 Les Bonnes Femmes Mulheres Fáceis Entre Amigas

1961 Les Godelureaux Les Godelureaux

1962 Les sept Péchés capitaux Os Sete Pecados Capitais

1962 L'Oeil du Malin L'Oeil Du Malin

1963 Ophélia Ophélia

1963 Landru Landru, o Barba Azul

1964 Les plus belles escroqueries du monde As Maiores Trapaças do Mundo

1964 Le Tigre aime la chair fraiche O Código é Tigre

1965 Paris vu par... Paris Visto Por...

1965 Marie-Chantal contre docteur Kha A Espiã de Olhos de Ouro Contra o Dr. Chantal

1965 Le Tigre se parfume à la dynamite O Tigre Se Perfuma Com Dinamite

1966 La Ligne de démarcation La Ligne de démarcation

1967 Le Scandale O Escândalo

1967 La Route de Corinthe O Espião De Corinto

1968 Les Biches As Corças

1969 La Femme infidèle A Mulher Infiel

1969 Que la bête meure A Besta Deve Morrer

1970 Le Boucher O Açougueiro

1970 La Rupture Trágica Separação

1971 La Décade prodigieuse Dez Dias Fantásticos

1972 Docteur Popaul Armadilha para um Lobo

1973 Les Noces rouges Amantes Inseparáveis

1974 Nada Nada

1975 Une Partie de plaisir Uma Festa De Prazer

1975 Les innocents aux mains sales Os Inocentes de Mãos Sujas

1976 Les Magiciens Os Mágicos

1976 Folies bourgeoises Vidas em Fogo

1977 Alice ou la Dernière Fugue Alice ou a Última Fuga

1978 Les Liens de sang Laços de Sangue

1978 Violette Nozière Violette

1980 Le Cheval d'orgueil Le Cheval d'orgueil

1982 Les Fantômes du chapelier Os Fantasmas do Chapeleir

1984 Le Sang des autres A Vida Do Próximo

1985 Poulet au vinaigre Frango ao Vinagrete

1986 Inspecteur Lavardin Delegado Lavardin

1987 Masques Masques

1988 Le Cri du hibou O Grito Da Coruja

1989 Une Affaire de femmes Um Assunto de Mulheres Uma Questão de Mulheres

1990 Jours tranquilles à Clichy Dias De Clichy

1990 Docteur M Doutor Mabuse e Seu Destino

1991 Madame Bovary Madame Bovary

1992 Betty Betty, Uma Mulher Sem Passado

1993 L'Œil de Vichy O Círculo Do Ódio

1994 L'Enfer Ciúme - O Inferno do Amor Possessivo

1995 La cérémonie Mulheres Diabólicas

1997 Rien ne va plus Negócios à Parte

1999 Au Coeur du Mensonge No Coração Da Mentira No Coração Da Mentira

2000 Merci pour le chocolat A Teia de Chocolate premio Louis-Delluc

2001 La Comédie de l'innocence

2002 La fleur du mal A Flor Do Mal

2004 La Demoiselle d'honneur A Dama de Honra A Dama de Honor

2006 L'ivresse du pouvoir A Comédia do Poder A Comédia do Poder

2007 La Fille coupée en deux Uma Garota Dividida em Dois A Rapariga Cortada em Dois

O grande filme que ele fez a partir do livro "A analfabeta", de Ruth Rendell - primoroso e arrepiante (tanto o livro como o filme).

Claude Chabrol, 1930- 2010



"Desinteresar-se da cozinha é desinteresar-se da vida"

sábado, 11 de setembro de 2010

Os dias vão


Os dias vão como as ondas e os cantos
seu rubro vento e seus profundos verdes pelas horas mutáveis.
Em um deles fica uma baía, em outro
um pânico de estrelas ou delfins
enquanto um tempo novo e sigiloso
com noites de diferente meridiano
filtra suas cordas pálidas pelos compartimentos
e mistura-se ao vinho que bebemos,
Uma viagem, oh doce dor na raiz do corpo
que joga consigo mesmo de ser igual, constante
e a despertar diferente cada dia, sob céus novíssimos,

quinta-feira, 9 de setembro de 2010

quando de longe me chamares



é assim, então?
jogas em mim esta luz,
estes véus, estes fios e
te escondes mais adiante
na lonjura dos dias que te carregam!
as nuvens abanam, posso ver...
te atreves tanto... até peixinhos
colocas no céu a zombar dos meus
dias sombrios,
estes dias que não passam!
sabes? dói esta claridade com que mostras
o mundinho em que vivo.
No entanto me prendo firme nos fiapinhos.
Sei que a raiz da figueira começa com
uma raizinha assim, ó, como o fio do meu cabelo
onde gostas de passar a mão.
Sei também que tudo isso se prende ao chão
e que tudo o mais se prende na luz,
e que jamais deixarás que eu me solte,
que não volte os olhos
quando de longe me chamares