sábado, 31 de outubro de 2009

Sur le Nile

Sur le Nile il`y a une ille
que s`apelle Zelahmak
-entre l'âme et le corps-
comme un arrière goût de never more,

fico com a alma e sua t
atuagem

terça-feira, 27 de outubro de 2009

Setembro e a cadela


"Amo meu dono", era a frase que se lia na coleira da cadela que troteava atrás de Setembro, que por sua vez empurrava um carrinho cheio de papel, livro e jornal. O ar resoluto dos dois demandava espaços na margem da via, ele empurrando enérgicamente sua biblioteca, ela balançando tetas e ventre, meio tonta do trânsito, a olhar ora para a esquerda, ora para a direita, a escorrer da língua fiapos de gosma que o vento se encarregava de recolher. O mesmo vento que fazia voar uma folha ou outra pela rua e que a cadela, se soubesse, leria "com uma lupa olhei sua mão, seus poros e ossinhos, queria reconhecer na foto à minha frente o que havia para reconhecer, procurei os rastros, quem sabe os gestos haviam deixado pedacinhos, como a pele da eternidade que vai descamando nas asas do tempo, deixando penas, vazios, a luz que assombra e num piscar de olhos desaparece".
Daquela estrela à outra
A noite se encarcera
Em turbinosa vazia desmesura.

Daquela solidão de estrela
Àquela solidão de estrela.

domingo, 25 de outubro de 2009

Conversan con el paisage


como falar da paisagem?
olho estrela, brilho extinto
e a lentidão sideral
com que fere exata
o que iluminaria
no vazio da porta entreaberta.

no horizonte arde ex-amadamente,
ainda rosto ausente.
oriente-se luz!
a máscara da palavra
examina a penumbra...

o desejo penetra de forma detalhada as
dobras do que amas!

olho a paisagem e sentada
ante a vastidão da monotonia,
sintonizo eclipses
e rádios pirata
(a palavra esmurra o muro duro).

Morro depressa,
É tão desigual a descoberta!

rogo à palavra,
ouço seu imenso clamor...
não, nenhum rosto debruçado sobre mim!

sábado, 24 de outubro de 2009

Poente

Príncipe


Era de noite quando eu bati à tua porta
e na escuridão da tua casa tu vieste abrir
e não me conheceste.
Era de noite
são mil e umas
as noites em que bato à tua porta
e tu vens abrir
e não me reconheces
porque eu jamais bato à tua porta.
Contudo
quando eu batia à tua porta
e tu vieste abrir
os teus olhos de repente
viram-me
pela primeira vez
como sempre de cada vez é a primeira
a derradeira
instância do momento de eu surgir
e tu veres-me.
Era de noite quando eu bati à tua porta
e tu vieste abrir
e viste-me
como um náufrago sussurrando qualquer coisa
que ninguém compreendeu.
Mas era de noite
e por isso
tu soubeste que era eu
e vieste abrir-te
na escuridão da tua casa.
Ah era de noite
e de súbito tudo era apenas
lábios pálpebras intumescências
cobrindo o corpo de flutuantes volteios
de palpitações trémulas adejando pelo rosto.
Beijava os teus olhos por dentro
beijava os teus olhos pensados
beijava-te pensando
e estendia a mão sobre o meu pensamento
corria para ti
minha praia jamais alcançada
impossibilidade desejada
de apenas poder pensar-te.

São mil e umas
as noites em que não bato à tua porta
e vens abrir-me


sexta-feira, 23 de outubro de 2009

Poeminha psicotrópico para Akineton


Recolherei todas as Stelazinas vencidas no céu
e te Prometazina que transformarei,
e Dissulfiran os Biperidenos
em Diazepans 5 e 10

Gardenais serão livres no espaço
Voando sem Anatensol
Mesmo assim, Epelin que me
Imipraminas com Tegretol 25.
Todo ele

Amplictilmente serei feliz,
Louvarei Hidantoinatos em tua
Amitriptilina, bem como
Carbasepinarei Lítios e
mais Carbolitios. Oh, sais!

Por fim, Haldol me Trifluoperazinará
O coração e o Tryptanol a razão.
Antabus, assim seja.

quinta-feira, 22 de outubro de 2009

Lua


Na paisagem gasta
a lua deita prata no lago
Que gosto tem a água?

Sina de Vagalume


Cunha cravada no céu
Signo do exílio
Se cresces, desapareço.

segunda-feira, 19 de outubro de 2009

Quando...

Guarda-chuva


o guarda-chuva é uma aranha que não descola da teia

tempestade, torce e vira do avesso

varetas chacoalham as patas
dançam para o céu
a esquina chega, vence o vento

que açoita o inseto

entregue e cansado, murchando as arestas

é o inicio da noite que finda a batalha
a aranha está morta.

sua teia escorre e fecha sobre mim

JARDIM DE LOU LIM IEOC



Deste jardim o que levo comigo
é um ramo de bambu para servir
de espelho ao resto dos meus dias.

domingo, 18 de outubro de 2009

Carta


..................................................

Por que você estuda tanto? Que segredo está procurando? A vida logo o revelará a você. Por mim, já sei tudo, sem ler nem escrever. Algum tempo atrás, talvez uns dias, eu era uma moça caminhando por um mundo de cores, com formas claras e tangíveis. Tudo era misterioso e havia algo oculto; adivinhar-lhe a natureza era um jogo para mim. Se você soubesse como é terrível obter o conhecimento de repente - como um relâmpago iluminando a Terra! Agora, vivo num planeta dolorido, transparente como gelo. É como se tivesse aprendido tudo de uma vez, numa questão de segundos. Minha amigas e colegas tornaram-se mulheres lentamente. Eu envelheci em instantes e agora tudo está embotado e plano. Sei que não há nada escondido; se houvesse, eu veria.
..........................................................

Até amanhã, tenhamos uma boa noite, e lembre-se de que os grandes amigos têm que gostar muito, muito, muito, muito, muito, muito, muito, muito um do outro... com M, como em musica, ou em mundo.
Primeira premissa: Os grandes amigos devem amar muitíssimo uns aos outros.
Segunda premissa.: Alex e Friducha são grandes amigos.
Conclusão: Logo, Alex e Friducha devem amar muitíssimo um ao outro.

................................................................

Credenciais



Se levastes as bem seladas palavras do sonho,
salvas das garras do sal e do naufrágio,
e se depositastes o grão da fidelidade
na memória, onde de olhos postos, buscamos a Mãe.
Se o fizestes, lembrando o rito essencial
ao depositário do destino,
E se deixastes a missiva no liso oceano
existente por detrás da margem sutil,
Se se na tua lingua levastes o mar,
a palavra alcançará cais.
Se a ofertastes assim, tal zelo se tomará,
que sereno, será o destinatário,
ao receber o signo do emblema.

sexta-feira, 16 de outubro de 2009

Nahr el Bered


Melhor não!
Seria como lamber o chão onde me vomitei,
melhor não!
A carne arderia duas vezes na mesma
alma.
Melhor não!
Apagaria todo o sol,
esta chaga aberta com o fogo da tua palavra,

Como no campo de Nahr el Bered no
amanhecer,
como a cinza na devastação,
só nuvens e carne putrefata.

Nenhum anjo sobrevoaria,
nenhuma asa tocaria
o rosto opaco do abandono.

Mil mundos passariam,
juntaria a memória do deserto e morreria de sede...
Nenhum rosto para beber neste mundo.

Melhor não!

Hoje


hoje eu quero que o dia passe devagar
assim como os pingos indecisos do céu

hoje eu queria assistir o meu próprio filme de trás para frente
quem sabe percebo onde vacilei e acertei

hoje queria ter 100 anos pra dizer o que valeu e o que deveria esquecer
pareceria sábia sem mostrar as dúvidas que me cercaram

hoje a vida passou devagar e parou
como num dvd riscado de tanto ser visto

Hai-Kai




Horário de sábado
começa domingo
O sol mais tempo comigo

Depois daquele beijo

Tão doce tocar, tão fácil olhar, beijo sideral, anos luz demorado na boca, tão bom de amar, que nem um silêncio, que nem a chuva vai apagar, tão leve de ver... leve-me lentamente enquanto calejo letras, depois dele leio no voo, letargo, deleto fardo lento, ambivalente, mais leve que o ar, lentamente beijo lento, paletós levitam aleatórios, lepdópteros borboletam amarelos no tempo, depois dele.

quinta-feira, 15 de outubro de 2009

Flores

Hai-Kai



A carne nua
rente ao poema
como crua

Mapa do Náufrago



tem uma coisa que vi
que não quero desver,
uma lembrança
que não quero esquecer,
um lugar que não quero
deixar,
alma silenciosa.

tem um mar que atravessei
que me atravessou,
um sal entranhado na pele
que não quero raspar,
uma viagem que mingua
a lua,
alma inquieta,

e por não saber,
a cada manhã acordo
com a mesma imagem,
da noite clara e distante
no mapa do céu invernal
onde naufraguei,
alma cansada!

quarta-feira, 14 de outubro de 2009

O poeta


Já te despedes de mim, Hora.
Teu golpe de asa é o meu açoite.
Só: da boca o que faço agora?
Que faço do dia, da noite?

Sem paz, sem amor, sem teto,
caminho pela vida afora.
Tudo aquilo em que ponho afeto
fica mais rico e me devora.

Rainer Maria Rilke

"A dupla face do querer"

Queres-me terno, dizes abominar a violência
e não percebes que o tesão nada tem a ver com delicadeza

Queres-me sábio
dizes desejar ser feliz
e não percebes que na felicidade há algo de obsceno

Queres-me olímpico
dizes invejar o meu gozo agitado
e não percebes o êxtase voluptuoso na tua venturosa calma

Queres-me santo
dizes ansiar pelo sublime
e não percebes que a língua que profere a palavra sagrada
é a mesma que lambe o cu

"Setembro"

A folha de papel voou da carrocinha, rodopiou no ar e caiu na calçada, abaixo do viaduto. A cadela viu e nada pode fazer, mas se pudesse, leria:
"setembros agora são assim... são nada! nenhum passarinho, sem passarada. sem flores, sem sóis. só dores. Os setembros já não brilham, pela janela enluarada. Agora são assim: sem cor, sem primavera. São chuva de inverno, são falta de luz, são trevas, são nada."
E logo abaixo, no papel manchado, um pedaço de palavra, andr, e nada mais.

meu amô


uma frô pá tu
enfeitá teu dia
uma cô, um frufru
um chero de caju
e mais não digo
de mode a contigo
respeitá a moça frô

Ilustração para Sándor

Sándor dizia

Sándor dizia

para o psicanalista
a pista é apalavra,
-não se avexe com a
fobia-
do outro lado da ponte
-Buda ou Pest-
dizia
meu primo golpista
antes de se atirar no rio.

propôs casamento
entre duas teorias:
O divã e a mente malsã
num forró de pé de serra,
um tipo de alegoria
onde édipo e ana klein
dançam e sacodem terra.

- deu no que deu-
é só um palpite tantã,
(acredite doutor beto),
mas Sándor estudou,
pesquisou, discípulo foi,
quase filho do pai,
quase pai de uma anã.

mas as teorias são assim,
há quem acredite e
repita.

se Sándor psicanalista foi,
sua prima malabarista também.
pulou, equlibrou,
se esborrachou e
repentista se tornou.

terça-feira, 13 de outubro de 2009

Eclipse



deixa as dobras e as sombras
olhos te espreitam na luz

Das improbabilidades

Hoje quando chegares na tua sala haverá sol, pois ele costuma aí estar em meados de agosto depois do meio dia. Acho que não sentarias de frente para a luz, mas quando sentares poderá haver uma claridade inundando o teu rosto e, pensarás...Não, não pensarás em nada, talvez abras algum livro, escolhendo aquele que está no meio da pilha, ou talvez tenhas pressa em saber dos teus e-mails ou nada disso, talvez folheies vagarosamente, ao acaso, um texto qualquer. Sentarás de frente para a luz ou não, e pensarás em alguma coisa incomum como a sombra que acompanha a luz, mas isso não é incomum, seria se não houvesse uma delas, pois uma não vive sem a outra, pensarias e olharias assim, com o teu jeito incomum, imagino que poderias pensar deste jeito, mas também poderias não sentar de costas para o sol e sentir o sol inundando o teu rosto, mas ficar de pé por um infindável momento como costumas fazer por momentos infindáveis, como uma asa que plana no seu exato prumo onde o ar mais pesado sustenta o voo. Quando abrires o que escrevo haverá sol no teu rosto, pois imagino que em agosto depois do meio dia, ele bate nesta sala neste momento em que lá te encontras, que o teu rosto estará sereno e o teu olhar esverdeado muito claro, assim como a folha que brilha no sol, mas que poderia ser negro como a densa sombra da árvore do outro lado da rua quando pensas no teu filho longe de ti. Talvez um pio possa ser ouvido e nele pouses os teus olhos e também percebas que há flores que se abrem pois o sol desperto depois de tanto tempo de chuva, aumenta as possibilidades de se expandir para todas as aberturas, onde pequenos rastros luminosos poderão tocar o teu rosto que se voltará para um pensamento, ou não. Olharás a tua mão pousada sobre um livro, nesta hora em que o único gesto impensado é a tua mão lisa em descanso sobre um livro qualquer, ou então pensarás que hoje é mais um dia que se abre para o incomum, repleto de luzes e de sombras, pois a luz causa esse efeito onde se esconde, e na sombra um frescor também incomum pois o sol refletirá essa diferença onde não estiver e, quando o sentires, talvez penses no voo de todos os pequenos e grandes seres que voam e nas cores de tudo que se move deixando corolas e pétalas e perfumes e na tua vida que se abre para mais um dia incomum, na quase primavera para onde o tempo caminha. Eu já não estarei no teu pensamento, pois os pensamentos escoam velozes, não tanto quanto as lembranças, mas poderás lembrar um pouco do dia, não, não era dia, seria uma noite clara, a primeira sem frio e sem chuva após uma temporada intensa de frio e de chuva, portanto não havia mais chuva e esta era a senha para vires bater à minha porta porque a enchente de chuva havia parado, mas isso já terá sido quase esquecido, pois a noite passava veloz como passam os pensamentos ou talvez passasse de um jeito incomum onde as palavras não se completam ou ficam mais lentas pois o álcool nos copos sumia enquanto o teu pensamento obsedava idéias improváveis, ou quase idéias de prováveis lembranças misturadas com palavras incomuns e acontecimentos sem nexo ou acontecimentos prováveis e sentimentos improváveis. Poderia parecer que havia um sentimento nostálgico neste momento, uma confissão de outros momentos prováveis que o álcool diluia, neste sussurrar involuntário de probalidades. O instante improvável se insinuaria, como sempre se insinuou, penetrando rigorosamente na memória, para que o gesto futuro fosse provável, não como um ato comum, mas como um silencioso caminho há muito traçado, de forma sutil e sinuosa que só pudesse acontecer num tempo de quase luz e sombras, um átimo depois da chuva, uma ressaca onde se pudesse penetrar, saciar probabilidades, como um inventário de dissimulações, uma sutil preparação ao caminho sinuoso e excêntrico há muito vislumbrado, não em instâncias comuns, mas num trajeto incomum como são aqueles que percorremos insensadamente. Mesmo com o peso ou a leveza dos bêbados, o rumo estaria consignado na probalidade da saliva que decidia a sede a ser medida, facilitaria um trecho estreito, um atropelo ancestral onde passos e sombras, uma vida ou mais penetraria no quarto e na cama e, como um prenúncio, uma luz de abajur se acenderia junto ao teu rosto, e na claridade que te ofuscava, eu já te pensaria na tua sala e no sol que lá permanece em agosto, depois do meio dia. Com a mesma sede que alimenta e consome os teus gestos, a tua gana consumiria desmedidamente a fome e a sede de quem se alimenta de forma incomum, lançaria mãos e dedos também em tudo que fosse provável de ceder à eles e não haveria medidas improváveis de impedir um confronto onde a sede e a fome enfrentam situaçoes incomuns.
As palavras surgiram no amanhecer, no meio de nuvens leves de um dia de agosto onde a chuva e o frio tinham esquecido de se apresentar e os fantasmas de uma vida ou mais permaneceriam numa cama, numa cozinha, numa xícara de café, ou mesmo no botão arrancado da tua camisa num ímpeto de desnudar os sentidos que se colam em todos os tecidos, por dentro dos olhos, na corrente que arrasta todo o provável jorro de luz, de sombra e desejo. Em silencio eu reverenciaria a sede onde salivam os beijos incomuns, a desordem dos lençóis, o botão caído, o cheiro único da tua pele, o toque úmido e morno dos poros e intumescências e de todas as secreções do desejo e a vontade de não findar, pois era improvável que percebesses que eu assim fazia para deixar as tuas lembranças se irem com a noite, junto com os fantasmas trazidos pelas sombras do quase dia duma noite que ficou numa quase luz duma provável noite de agosto onde o teu corpo e o meu e uma vida ou mais percorreu por algumas horas, gestos e improváveis lembranças que com um movimento da tua mão sobre o teu rosto, deixarás na luz, de um provável sol de agosto na sala onde te encontras de frente para a claridade.

SEIKILOS


Hoson zes, phainou
Meden holos su lupou
Pros oligon esti to zen
To telos ho chronos apaitei

Enquanto viveres, brilha
Não sofras nenhum mal
A vida é curta
E o tempo cobra suas dívidas

segunda-feira, 12 de outubro de 2009

Xilogravura

viu a lua?
a chuva não conseguiu levar!
lavou e vestiu de luar,
pensaria a cadela,
se pudesse pensar, como um pedaço de carne pendurada
na frente do seu focinho molhado
brilhando no azulão da noite.