segunda-feira, 30 de agosto de 2010

Contra ventos e marés




Cedo a travessia mostrou,
não existe cais,
existe o mar.

Mar e vento.
Não existe paz.
Há que conquistar marés,
acordos de tombadilho

Forças a embarcar,
a alma mais longe,
mar adentro, mar abaixo,
mar é preciso!

Cedo amar mostrou
memórias que matam.
Não existe alma gentil,
há terra longe.

Vale a pena o pássaro?
Ramo verde carregado pelo sal,
na boca ainda lembra,
existe o cais!


sexta-feira, 27 de agosto de 2010

" de guaxos e de sombras"


falta-me calma,
minh'alma nervosa
confunde tudo,
quero só um cavalo,
dos tempos do pampa profundo,
um crioulo sem fronteiras
para pelear no livro da Joana,
um que carregue histórias e sombras,
um que reconheça párias e guaxos,
que no limite das águas seja como o vento
sem dono,
um don segundo para correr livre
do meu desenho tosco.

alguém aí tem idéia de crina e cola,
coração de coxilha, imensidão e leveza...
sigo no trote curto apertado da montaria.
no grafite cerro as lembranças de don luiz,
conhecia o chá dos índios e da India
só lembrança china

solto a alma no arreio, no assento pelego
pego carona e lá se vão arroios, mutucas e verões.

algém tenha dó, já não lembro dos séculos
sem fronteiras, nem das bandeiras que se moveram
aqui e ali, condundindo minha pátria,

quero muito um desenho leve, azul,
mas encontro a solidão, a sombra alongada
desta alma guaxa.

vou lá dentro arrumar o mate e já volto!

quinta-feira, 26 de agosto de 2010

O brinco

Pode ser que como as estrelas
as coisas estejam separadas
por pequenos intervalos de tempo
pode ser que as nossas mãos
de um dia para o outro
deixem de caber
umas dentro das outras
pode ser que no caminho para o cinema
eu perca uma das minhas ideias
preferidas
e pode ser
que já na volta
eu me tenha resignado
alegremente
a essa perda
pode ser
que o meu reflexo sujo
no vidro da lanchonete
seja uma imagem de mim
mais exata
do que esta fotografia
mais exata do que a lembrança
que tem de mim
uma antiga colega de colégio
mais exata do que a ideia
que eu mesma
agora tenho de mim
e portanto pode ser
que a moça cansada
de olhos tristes
que trabalha na lanchonete
tenha de mim uma imagem
mais fiel
do que qualquer outra pessoa
pode ser que um gesto
um jeito de dobrar
os lábios
te devolva
subitamente
toda a infância
do mesmo modo que uma xícara
pode valer uma viagem
e uma cadeira
pode equivaler a uma cidade
mas um cachorro estirado ao sol não é o sol
e uma quarta-feira não pode ser o mesmo que
uma vida inteira
pode ser
meu querido
que esquecendo em sua cama
meu brinco esquerdo
eu te obrigue mais tarde
a pensar em mim
ao menos por um momento
ao recolher o pequeno círculo
de prata
cujo peso
o frio
você agora sente nas mãos
como se fosse
(mas ó tão inexato)
o meu amor.

terça-feira, 24 de agosto de 2010

segunda-feira, 23 de agosto de 2010

A lua do Marcelo

Lua de inverno


















lua de inverno,
vistes os segredos,
emaranhados balançando
no tempo?
quanto espanto refletido no espelho,
água doce
que nunca deixei!

meu coração foi contigo,
noite quieta sem vento,
comigo vais nas noites sem ti,
numa velha lanterna
iluminando a estradinha da infância

lua, luazinha, empoeirada e andarilha,
deixa que te siga,
serei leve, silenciosa,
quero que me brilhes no fundinho dos olhos,
que nunca mais me escondas
na memória clara de tua sina

domingo, 22 de agosto de 2010

Hasta cuánto de alta es esta altura
que siempre hay más y yo más quiero subir
hasta dónde llegará esta pendiente

cuanto más arriba haya, más abajo habrá también.
¿Hasta dónde? si ya voy cruzando el cielo
¿Hasta dónde ? si nunca puedo alcanzar
¿Hasta cuánto? que nunca se ve la cima
el horizonte siempre, siempre es un peldaño más.

Cada vez estoy más trepado
y el abismo bajo mis pies
siempre tiene más abajo
pero a dónde queda el llegar
de este arriba sin final

este arriba cada vez, más alto está

Apunado de locura
va a dejarme esta altura
nunca tiene suficiente
se eleva siempre más y más

tanto vértigo es la vida
no hay más que hacer, sólo subirla
morir abajo, como también arriba.

hai kai

cedo ao sol
o aço da cidade
desfaço-me, farol

quarta-feira, 18 de agosto de 2010

Os ventos da Lagoa do Laranjal








PORQUE NÃO FUMO FREE


a tarde caiu isenta
há duas horas nenhum
perrengue
(o céu, sem riscos)

trompete, chá
gelado, sexo
satisfatórios
: modos perfeitos
de moldar o ar

a tarde caiu isenta
entre vácuos de outdoors
cassados
(o jazz, sem corações)

hemingway, chet
baker, times
magazines
: falsos cognatos da
terra, souza cruz

a tarde caiu isenta
contra sólidos elmos e
broquéis
(o poeta, sem missais)

terça-feira, 17 de agosto de 2010

As quatro intenções

As quatro intenções | LIANA TIMM | arte digital | 1999

Passarinho pousou


segunda-feira, 16 de agosto de 2010

Pátria Minha

A minha pátria é como se não fosse, é íntima

Doçura e vontade de chorar; uma criança dormindo

É minha pátria. Por isso, no exílio

Assistindo dormir meu filho

Choro de saudades de minha pátria.


Se me perguntarem o que é a minha pátria, direi:

Não sei. De fato, não sei

Como, porque e quando a minha pátria

Mas sei que a minha pátria é a luz, o sal e a água

Que elaboram e liquefazem a minha mágoa

Em longas lágrimas amargas


Vontade de beijar os olhos de minha pátria

De niná-la, de passar-lhe a mão pelos cabelos

Vontade de mudar as cores do vestido (auriverde!) tão feias

De minha pátria, de minha pátria sem sapatos

E sem meias, pátria minha

Tão pobrinha!


Por que te amo tanto, pátria minha, eu que não tenho

Pátria, eu semente que nasci do vento

Eu que não vou e não venho, eu que permaneço

Em contato com a dor do tempo, eu elemento

De ligação entre a ação e o pensamento

Eu fio invisível no espaço de todo o adeus

Eu, o sem Deus!

Tenho-te no entanto em mim como um gemido

De flor; tenho-te como um amor morrido

A quem se jurou; tenho-te como uma fé

Sem dogma; tenho-te em tudo em que não me sinto a jeito

Nesta sala esrangeira com lareira

E sem pé-direito


Ah, pátria minha, lembra-me uma noite no Maine, Nova

[Inglaterra

Quando tudo passou a ser infinito e nada terra

E eu vi alfa e beta de Centauro escalarem o monte até o céu

Muitos me Surpreenderam parado no campo sem luz

À espera de ver surgir a Cruz do Sul

Que eu sabia, mas amanheceu...


Fonte de mel, bicho triste, pátria minha

Amada, idolatrada, salve, salve !

Que mais doce esperança acorrentada

O não poder dizer-te: aguarda...

Não tardo !


Quero rever-te, pátria minha, e para

Rever-te me esqueci de tudo

Fui cego, estropiado, surdo, mudo

Vi minha humilde morte cara a cara

Rasguei poemas, mulheres, horizontes

Fiquei simples, sem fontes

sábado, 14 de agosto de 2010

reflexões do mar


Sem pátria nem norte,
gravita na galáxia,
morna pele procurando sol;
no sul do frio, a estética do
gelo, rente às juntas.

Apátridas em revoada ao norte,
comportam lembranças únicas,
levados pelo exílio de ventos,
aguardam o rito, esférica gana,
quente o brilho que tudo unta.

E palos e minuanos, farrapos
congelados derretem-se,
na fémea concha,
virando espuma.

Na luz, opaca lembrança,
nascida gêmea da coberta;
a pele nua encontra guarida
e pátria!







entre mar
e coqueiral,
corpo lento
asfixia o sol








margem verde
desfaz-se branca
sob o peso azul do ar







Circe grita.
Cala distante,
veloz jangada.

sexta-feira, 6 de agosto de 2010

a palavra

a palavra cura
tergiversa obscura
engana
a palavra aldrava
abre
é árabe
levanta e baixa
fecha
a palavra louca
pode ser oca
voa e pousa
sem pista
é a isca que fisga
outra palavra solta
absinto
a vítima íntima
da palavra
losna
que é o estado
da palavra amarga
marca
o trajeto aleatório
infinito da idéia

noveau cuisine

Waiting for summer fruits...


esvai-me em orgasmos
na minha nouveau cuisine
criei regiões
em litígio permanente
mas
é a hipocrisia virulenta
que destempera

Tu e Eu

Café Luso

Eu e Tu


No Japão é Li
Na China Lu
Aqui você é tu
Tudo ali, como você


Já mudei para Saigon

Esquina com a Japão

Lá vou ser Madame Ling

Vê se encontra o mapa
Da saida Hon-Ro-Sah
Não confunde Tu com mim
Para tudo tem um fim

Debaixo da coberta



Sou toda morna
Mole, aberta
Debaixo da coberta
Vem agora
O segredo da porta
Pode guardar
Noite fria
Eu nua, nua, nua
Vem agora

Secreta vim
Sedenta boca
Sou toda tua
Noite louca
Sou toda lua
Sou toda tua
Branca fria
Tua, tua, tua
Vem agora

Sou sem pudor
Finjo amor
Debaixo da coberta
Vem agora
Lençol elétrico
Métrico amante
Sou toda tua
Tua, tua, tua

El Comidista Blog com Lareira

SOBRE EL BLOG

sobre el blog

El Comidista trata todos los aspectos de la realidad relacionados con la comida. No sólo da recetas fáciles de hacer, habla de restaurantes accesibles o descubre los últimos avances en trastos de cocina, sino que comenta cualquier conexión de lo comestible con la actualidad o la cultura pop. Todo con humor y sin ínfulas de alta gastronomía.

Alobndigas de cordero y berenjena

Por: Mikel López Iturriaga

Albondigas cordero berenjena

Estas albóndigas fritas tienen un claro ascendiente griego, aunque siendo sincero, no tengo ni idea de si allí las preparan exactamente así. Me entraron ganas de hacerlas el otro día tras redescubrir una receta apuntada en un papelito que me había pasado mi cuñada May allá por el siglo XVII, pero lo volví a perder, por lo cual tuve que prepararlas de memoria. Como la capacidad de recordar de mi cerebro está bastante deteriorada, puede que los ingredientes no sean los mismos, ni tampoco la preparación.

Sin embargo, guiándome un poco por una receta similar que había publicado en Ondakín y otro poco por intuición acabaron saliendo unas albóndigas espectaculares. Metí la pata, eso sí, al no escurrir bien la carne de la berenjena, con lo cual la masa estaba un poco inmanejable. Pero bueno, nada que no se pudiera arreglar con una dosis de pan rallado.

La berenjena asada da a estas albóndigas una cremosidad fantástica, a la vez que contrarresta la contundencia del cordero. Tienen su trabajo, pero de verdad que compensan. Y se pueden hacer en cantidades industriales, congelar y freír cuando se quieran tomar.

Dificultad

Hay que tener un poco de sentido común.

Ingredientes

Para ocho personas (si sois menos, vale la pena hacer más y congelar la masa)

  • 400 gr. de carne de cordero picada
  • 400 gr. de magro de cerdo picado
  • 2 berenjenas
  • 200 gr. de miga de pan de cereales
  • 2 huevos
  • 2 cebollas
  • 2 dientes de ajo
  • 5 cucharadas de perejil picado
  • Leche entera
  • Pan rallado
  • Harina
  • Aceite de oliva
  • Sal y pimienta negra
  • Hojas de menta para decorar (opcional)
Preparación

1. Precalentar el horno a 200 grados. Asar las berenjenas enteras sin quitarles el tallo, untadas con un poco de aceite en una bandeja o fuente, unos 45 minutos. Sacar y dejar que se templen. Pelar, escurrir bien la carne aplastándola en con un colador y salar ligeramente.

2. Picar la cebolla y rehogarla en aceite de oliva a fuego medio-suave durante 15 minutos. Añadir el ajo y dejar que se dore levemente.

3. Poner a remojo el pan con leche hasta que se empape bien.

4. Poner en un bol las dos carnes, añadir la carne de la berenjena, el pan escurrido, la cebolla y el ajo con el aceite, el huevo, el perejil picado y salpimentar. Mezclar bien todo, cubrir con film y dejar madurando en la nevera mínimo un par de horas (cuanto más tiempo, más sabor cogerá la carne).

5. Preparar un plato o fuente cubierta con papel de cocina y otro hondo con harina. Calentar aceite abundante en una cazuela (si tienes una freídora o una rejilla para freír, mejor). Sacar la carne y retirar los trozos de ajo (también se pueden aplastar y mezclar con la carne).

6. Comenzar a hacer las bolitas con las manos: una cantidad buena de carne es el de una cucharada, pero se pueden hacer más pequeñas si se prefiere. Si la masa está demasiado húmeda, ponerle un poco de pan rallado y mezclar. Enharinarlas e ir friéndolas en el aceite caliente, pero que no humee (una temperatura 7 de 10 es la correcta; si está demasiado caliente se quemarán por fuera y quedarán crudas por dentro). Cuando estén ligeramente doradas, dejar sobre el plato con papel absorbente para que pierdan el exceso de grasa.

7. Servir calientes y con menta picada en grueso por encima. Lo mejor es tomar las albóndigas recién fritas, pero si las quieres tener hechas de antes, se pueden recalentar en el horno. El truco entonces es freírlas poco, para que se acaben de hacer allí.

Están buenísimas con yogur griego aliñado con limón, ajo, sal, pimienta y aceite de oliva. O con salsa de tomate.


quinta-feira, 5 de agosto de 2010

quarta-feira, 4 de agosto de 2010

joia dels passapais

verde que te quero

foto

a morte e as crianças

Por Ernani Ssó

Acho mais difícil escrever para crianças do que para adultos, porque os adultos eu sei (mais ou menos) quem são. Mas acho mais fácil falar com crianças. Não devia. Afinal, numa conversa não dá pra se usar a tecla delete e começar tudo de novo, e o problema de quem são as crianças continua — e de pertinho, ainda por cima. Só que, na maioria das vezes, acontece uma mágica entre nós.

Quando escrevi os Contos de morte morrida e me chamaram para falar com alunos sobre eles, torci como nunca por essa mágica.

Logo no começo da pesquisa para escrever o livro, me dei conta de que a Morte era apenas outra personagem, como a bruxa ou o ogro, tanto que vinha em maiúscula. Agora tive a comprovação disso com crianças bem pequenas: perguntei a elas se a Morte andava por aí encapuzada e com uma gadanha. Claro que não, foi a resposta geral. Elas sabiam que essa Morte, em seu belo modelito medieval, é apenas uma imagem para podermos aprender a lidar com a outra, a que se escreve com minúscula. O fato de alguns pais acharem que protegem os filhos se calando sobre o assunto, ou afastando-os de livros que tratam dele, é outra história complicada, bastante parecida com a da avestruz.

Outra personagem apenas? Não. A Morte emociona mais — mais até que a bruxa, a campeã absoluta na modalidade meter medo. Por exemplo, algumas crianças me contaram que os irmãos maiores, os pais e os avós leram os Contos de morte morrida. Havia nessa revelação uma ponta de ironia e também de orgulho. É que a maioria das famílias ignora as leituras dos filhos na escola, ou não tem muita paciência com elas.

A Morte vinha me proporcionando boas alegrias, mas dentro de uma faixa segura, digamos: dos oito anos para cima. Então fui convidado a falar na escola Pato, uma das mais antigas de Porto Alegre, fundada em 1967, e referência na educação infantil. A turma da professora Patrícia Dexheimer, com crianças de cinco para seis anos, faz seu último ano por lá. Como preparação de saída para o ensino fundamental, há muitas atividades que envolvem separação, perda, mudanças, essas coisas. Foi assim que a Patrícia teve a ideia de ler os Contos de morte morrida em aula. No início, algumas crianças se mostraram receosas, mas depois da leitura da apresentação do livro (que também é uma história), a Morte, com sua velha gadanha, conquistou a turma. Um detalhe interessante: a pedido de alguns alunos, os finais dos contos foram lidos mais de uma vez, para que não houvesse dúvida de que os personagens tinham morrido mesmo.

Um dia, na biblioteca, com as crianças folheando livros e revistas, a professora Patrícia ouviu o seguinte pingue-pongue:

— Olha, o Cebolinha morreu aqui.

— Mas essa revista não é do Ernani Ssó.

— Claro que não. Não é só ele que escreve sobre a Morte.

Como, felizmente, a Morte não é monopólio meu, as crianças resolveram criar uma história, inclusive parodiando meu estilo. O papel da professora, é bom que fique claro, foi apenas o de secretária.

Na minha alegria, só não soltei foguetes porque sou contra foguetes. Se eu precisasse de uma prova de que não devemos subestimar as crianças, de que devemos apostar sempre na inteligência, os alunos da professora Patrícia teriam me dado uma das melhores. Vejam como pegaram direitinho o espírito da coisa:

A Morte e o palhaço

Há muito tempo, quando os bichos falavam e existia um monte de cachoeiras na cidade, uma pessoa deu uma festa e convidou o palhaço.

O palhaço apareceu na festa e a Morte veio conversar com ele. Já estava perto da meia-noite, e ela falou:

— Aproveite bem a festa enquanto viver.

A Morte foi embora.

O palhaço se divertiu muito fazendo palhaçadas, mas depois se fantasiou de convidado e saiu da festa.

Quando a Morte chegou e procurou pelo palhaço, não o encontrou. Foi até a casa dele, bateu na porta e ninguém respondeu. Aí a Morte derrubou a porta com a gadanha e entrou.

A Morte procurou, procurou e achou o palhaço escondido dentro do fogão, que estava ligado. Aí ela falou:

— Cheguei bem na hora!

* * * * *

Ernani Ssó nasceu em Bom Jesus, RS. Tem livros para adultos, mas prefere os infantis. Dele, a Companhia publicou Contos de morte morrida e Virou bicho!, entre outros. Tem uma coluna semanal no site Coletiva.net.

terça-feira, 3 de agosto de 2010