sábado, 18 de setembro de 2010

Setembro


É setembro,
ainda te quero,
como a terra que cobrirá meus passos,
como os botões que se abrirão todos os dias,
de agora, até findar o horário regulamentar.
No hemisfério sul, em câmera lenta, sento e te espero
na sombra de outubro.
Silêncio,
ainda no ovo,
vibra
um coração pequeno.
De dia,
o vidro do céu,
quebra,
a cada ventania.

Quadrinhas se fazem no tempo
dentro do tempo,
ainda te quero, obscura e sedenta,
despida de novo.

Os ritos nem serão percebidos,
cadeiras permanecem nas salas mesmo depois da vida.
Ainda te espero, com a infância que guardo,
junto de leituras hieróglifas,
na beira de um alto, com frio no ventre.

É setembro, devo acordar,
ainda te escuto passando rente ao muro da minha pele.
Ainda respiro teu hálito subterrâneo,
ainda deito num tapete envelhecido de mãos hábeis
que moldam a umidade.
Ainda te quero, colhida pela premonição,
levada pela guia que saberá o fio desenredar.
Teu cão olha nos meus olhos e te reconhece.
É setembro e logo não será,
ainda que nunca mais,
te quero.

Um comentário:

  1. E precisa? O melhor comentário, aqui, é silêncio respeitoso, som de respiração semicontida.

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