segunda-feira, 27 de junho de 2011

As pessoas sensíveis




As pessoas sensíveis não são capazes
De matar galinhas
Porém são capazes
De comer galinhas


O dinheiro cheira a pobre e cheira
À roupa do seu corpo
Aquela roupa
Que depois da chuva secou sobre o corpo
Porque não tinham outra
O dinheiro cheira a pobre e cheira
A roupa
Que depois do suor não foi lavada
Porque não tinham outra


"Ganharás o pão com o suor do teu rosto"
Assim nos foi imposto
E não:
"Com o suor dos outros ganharás o pão."


Ó vendilhões do templo
Ó constructores
Das grandes estátuas balofas e pesadas
Ó cheios de devoção e de proveito


Perdoai-lhes Senhor
Porque eles sabem o que fazem.



domingo, 12 de junho de 2011

Soneto à maneira de Camões


Esperança e desespero de alimento
Me servem neste dia em que te espero
E já não sei se quero ou se não quero
Tão longe de razões é meu tormento.

Mas como usar amor de entendimento?
Daquilo que te peço desespero
Ainda que mo dês - pois o que eu quero
Ninguém o dá senão por um momento.

Mas como és belo, amor, de não durares,
De ser tão breve e fundo o teu engano,
E de eu te possuir sem tu te dares.

Amor perfeito dado a um ser humano:
Também morre o florir de mil pomares
E se quebram as ondas no oceano.






O poema

O poema me levará no tempo
Quando eu já não for eu
E passarei sozinha
Entre as mãos de quem lê

O poema alguém o dirá
Às searas

Sua passagem se confundirá
Com o rumor do mar com o passar do vento

O poema habitará
O espaço mais concreto e mais atento

No ar claro nas tardes transparentes
Suas sílabas redondas
(Ó antigas ó longas
Eternas tardes lisas)

Mesmo que eu morra o poema encontrará
Uma praia onde quebrar as suas ondas

E entre quatro paredes densas
De funda e devorada solidão
Alguém seu próprio ser confundirá
Com o poema no tempo

noturna


há muito esquecida
pequena estrela
água passageira sopro
eco da miríade desaparecida
horizonte de faísca
prata aquietando
a impossibilidade da lua

quarta-feira, 8 de junho de 2011

terça-feira, 7 de junho de 2011

punhais


colhes amores e ritos

notas soltas

sopras mitos gemidos

desfeito e louco


só há um propósito nisto

meu coração trapezista

alugo-o por um punhado de punhais


que estranho destino me move

também eu quero afagos


no parapeito aponto o rio

enquanto jogas-me facas


Nos sobran los motivos




Esta sala de espera sin esperanza,

Estas pilas de un timbre que se secó

Este helado de fresa de la venganza

Esta empresa de mudanza

Con los muebles del amor

Esta campana mora en el campanario,

Esta mitad partida por la mitad,

Estos besos de Judas, este calvario,

Este look de presidiario,

Esta cura de humildad.

Este cambio de acera de tus caderas,

Estas ganas de nada menos de ti

Este arrabal sin grillos en primavera,

Ni espaldas con cremalleras,

Ni anillos de presumir.

Esta casita de muñecas de alterne

Este racimo de pétalos de sal

Este huracán sin ojos que lo gobierne

Este jueves, este viernes

Y el miércoles que vendrá

No abuses de mi inspiración,

No acuses a mi corazón

Tan maltrecho y ajado

Que está cerrado por derribo.

Por las arrugas de mi voz

Se filtra la desolación

De saber que estos son

Los últimos versos que te escribo,

Para decir “condios” a los dos

Nos sobran los motivos.

Este nido de pájaro disecado

Este perro andaluz sin domesticar

Este trono de príncipe destronado

Esta espina de pescado

Esta ruina de Don Juan.

Esta lágrima de hombre de las cavernas,

Esta horma del zapato de Barba Azúl,

Qué poco rato dura la vida eterna

Por el túnel de tus piernas,

Entre Córdoba y Maipú.

Esta guitarra cínica y dolorida

Con su terco knock knocking´in heaven´s door,

Estos labios que saben a despedida

A vinagre en las heridas

A pañuelo de estación

Este ladrón aparcado en tu toga

La rueca de Penélope en Luna Park

Estos celos que sueñan que te desnudan

Esta caracola viuda

Sin la pianola del mar

No abuses de mi inspiración,

No acuses a mi corazón

Tan maltrecho y ajado

Que está cerrado por derribo.

Por las arrugas de mi voz

Se filtra la desolación

De saber que estos son

os últimos versos que te escribo,

Para decir “condios” a los dos

Nos sobran los motivos.


apascenta no inverno

restos nos dentes

esconde o veludo que à ti se estende

aqui ou noutra pele o tempo armadilha

da coberta esconderija

somem os dias


segunda-feira, 6 de junho de 2011

1/4



denso dentro fecho

o punho e penso

pesa a unha?

no risco arranha afunda

o sulco da densidade

sangra