quarta-feira, 29 de setembro de 2010

O mistério das portas fechadas


Atrás de uma porta fechada, o mistério...
ao abrir estará escuro e olharei,
como quem sonha com a infância.
Aos poucos, no meio da névoa, caminharei
com a pequena lanterna posta na entrada.
Nâo sei se o que verei será memória ou imaginação.
A rua de paralelepípedos ao lado do quartel,
onde não havia marcha soldado, mas o chico, que
cozinhava para o batalhão e, que da janela contava
as receitas do arroz com feijão.
Na esquina, correndo como criança, o canalete,
minúscla invenção das navegações ciganas.
Como cais, coroas de cristo evitando quedas
e rotas alternativas.
Havia, sim, mais ao longe um acampamento
de andarilhos, no qual as crianças sumiam
se de lá se aproximassem. E como queria, e como
não queria, para lá me aventurar! O eterno medo
que os pais tem de não ver seus filhos no fim do dia.
Duma esquina à outra esquina, dois corações assombravam
o mesmo peito. Da família daqui, a moça namorava
na garupa da lambreta, logo se casou e logo se desquitou.
Na família dali os irmãos trapezistas incendiavam o jardim
numa árvore feito barra, os grandes pulos riscando o céu.
Do muro do meu quintal, o papagaio do major salvador,
cantava a ave-maria, aprendida com outro colega,
morador da casa do bispo, de erudita audição
que também mesclava, vai à merda, entre bicadas no meu irmão.
Através da porta entreaberta, uma luzinha, um caminho,
um pouquinho que contarei outro dia em que chegar
este aperto ao olhar, fotografias de portas antigas
fechadas num velho galpão.

Nenhum comentário:

Postar um comentário