quarta-feira, 20 de janeiro de 2016


janeiro

meu sudário
recolhe 40 graus
pouso no
chão fresco da labuta
corredor
onde edifico
o dia que derrete
começo a dizer
o começo é agora
me empurra
sobre a síntese do inferno
criação do dia
este que me cria

aqui, um pedaço

aqui
esqueço mais rápido dia após dia
acatando a existência secreta,
havia um conforto no pátio
na horta do pai.
manhãs de capina, espigas de milho e sol
no fundo, meus irmãos
abriam ovos no galinheiro
a correria atravessava a casa úmida
e se instalava lá fora, no banco do cinamomo,
dentro, mãe e barriga, sinonimia da provação
ano sim, ano não, a secreção divina
obra que resistia por si mesma,
meninos e meninas cirandando
nas antiguidades sem data
da cidade quadrilátera do sul,
existia um banho de lagoa saloba
ardências e sangue na pele pálida
a irmandade voraz resistindo ao sol
pão com banana, tardes de vento,
noite de clube, de bingo, de baile
e a grande mágica iluminada de cada semana,
o cinema, vinha num rolo sagrado, enrolado filme
esperado sapateado rebentado
as figueiras levavam a vida inteira para crescer
além e mais acima, mas sempre estiveram por lá
cobras verdes subiam nas paredes da casa,
aqui
lembro um pedaço que some rápido
como se na balsa andasse
alisando a fluidez do canal
ainda vejo o São Gonçalo
parece longe,
mas não,
é só um resvalo banal
de uma margem à outra da memória

terça-feira, 5 de janeiro de 2016

carne de panela 
fruta no pé
o bule azul com a flor branca
a primeira semente
(o vento varre o céu)
é domingo no prato

tres e um início estranho





um se faz
um outro se adensa
sem
outro indo se despe

redundâncias ficam lá, para lá de lá

na luz da oriente
o estranho deita o primeiro dia


itapoan


no inicio foi separado o céu da terra
e a água da nuvem
ilha e concha flutuaram
na terra que ronca
o pasto apontou
e na luz permaneceu

o caso

oh momento vespertino
diz-me o que fazer...
ler, cantar...
esperar…
meu esqueleto clama pelo canapé
minha alma dança na ponta do pé
os bombeiros estão cansados
a casa da lingua portuguesa ardeu
todas as palavras
a presidenta ascende um ponto
o ministro diz que dá a volta por cima
resgata o bordado
em tempo, é dia do atleta,
três pulinhos pra comemorar,
ai que preguiça...

dona roseli








às vezes parece que grita
roseliii…roseliii
nem sei quem é
mas pode ser a dona do gato,
roseli, te mexe, salva o bem te vi