quinta-feira, 27 de maio de 2010

quarta-feira, 26 de maio de 2010

quatro estações



enquanto a lua plana
o rio se agita numa ponta
de papel
as quatro estações chegam juntas
varrendo a lógica do tempo

viro pro outro lado
do horizonte
ouvindo a promessa

a linha muda de lugar
há risadas no ar frio do entardecer
a voz continua ecoando
e a coberta não serve para o tamanho
da luz
fecho os olhos para descobrir
a beira do infinito

espero
há vigília no abraço que chega
e chamas entre todos os espaços
abarco
o olhar da chegada
adivinho as noites em que entreguei
o corpo ao sono depois de mim

na margen oscilante do rio
a lua não dá trégua e invade
os poros da noite
desenho no horizonte
as palavras do dia
guardo
as quatro estações dentro
depois de findar o eco

terça-feira, 25 de maio de 2010

segunda-feira, 24 de maio de 2010




Eis o melhor e o pior de mim...
O meu termômetro, o meu quilate
Vem, cara, me retrate
Não é impossível
Eu não sou difícil de ler
Faça sua parte
Eu sou daqui, eu não sou de Marte
Vem, cara, me repara
Não vê, tá na cara, sou porta bandeira de mim
Só não se perca ao entrar
No meu infinito particular
Em alguns instantes
Sou pequenina e também gigante
Vem, cara, se declara
O mundo é portátil
Pra quem não tem nada a esconder
Olha minha cara
É só mistério, não tem segredo
Vem cá, não tenha medo
A água é potável
Daqui você pode beber
Só não se perca ao entrar
No meu infinito particular...

Amazing Upside Down Guitar Playing Woman

Pontos de Vista




"Visto da juventude, a vida é um longo futuro; a partir da velhice, parece um curto passado. Quando partimos num navio, as coisas na praia vão diminuindo e ficando mais difíceis de distinguir; o mesmo ocorre com todos os fatos e atividades de nosso passado." A. Schopenhauer

Ao ler essa frase, direto pensei numa viagem de navio que fiz pela costa da Noruega. Lembro da sensação de perda ao me afastar dos portos e da vontade de aproximar outra vez, definir a visão, pisar em terra firme, fotografar de perto.


AVE, PASSARO

domingo, 23 de maio de 2010

Um poema de amor para domingo



Se eu pudesse dar-te aquilo que não tenho
e que fora de mim jamais se encontra
Se eu pudesse dar-te aquilo com que sonhas
e o que só por mim poderá ter sonhado

Se eu pudesse dar-te o sopro que me foge
e que fora de mim jamais se encontra
Se eu pudesse dar-te aquilo que descubro
e descobrir-te o que de mim se esconde

Então serias aquele que existe
e o que só por mim poderá ter sonhado

A libido é o álibi
alicia o lábio
labuta a pulsão
expulsa isso e eu
aspira

um

hiato

Do que você tem medo?

AMAS




Sombras são
trechos onde se
escondem armadilhas.

Só uma estrela
aponta,
perfurando limites onde

o encaixe geométrico
desdobra
a luz.

Amas
dobras mínimas,
infinitas, que sucedem sombras.

entre (ele) e eu



sim, entre (ele) e eu
existe um parêntese
(explicativo e não essencial)
parente do entreato,
ou seria entreaberto
desejo de retirar cunhas?

sábado, 22 de maio de 2010

quarta-feira, 19 de maio de 2010

Memória




Dez chamamentos ao amigo

Se te pareço noturna e imperfeita
Olha-me de novo. Porque esta noite
Olhei-me a mim, como se tu me olhasses.
E era como se a água
Desejasse

Escapar de sua casa que é o rio
E deslizando apenas, nem tocar a margem.

Te olhei. E há tanto tempo
Entendo que sou terra. Há tanto tempo
Espero
Que o teu corpo de água mais fraterno
Se estenda sobre o meu. Pastor e nauta

Olha-me de novo. Com menos altivez.
E mais atento.

Hilda Hilst
(1930-2004)

Tanto de meu estado me acho incerto


Tanto de meu estado me acho incerto,
Que em vivo ardor tremendo estou de frio;
Sem causa, juntamente choro e rio;
O mundo todo abarco e nada aperto.

É tudo quanto sinto um desconcerto;
Da alma um fogo me sai, da vista um rio;
Agora espero, agora desconfio,
Agora desvario, agora acerto.

Estando em terra, chego ao Céu voando;
Nu~a hora acho mil anos, e é de jeito
Que em mil anos não posso achar u~a hora.

Se me pergunta alguém porque assim ando,
Respondo que não sei; porém suspeito
Que só porque vos vi, minha Senhora


Jane Birkin - Yesterday Yes a Day

terça-feira, 18 de maio de 2010

Beijo

Do alto revejo
luas e dias
parei de contar

amanhece e anoitece
de ti não me afasto
sempre a velar

boca do mar
o rio se atreve
meu corpo beijar

sábado, 15 de maio de 2010



Quando é que o teu dia encostará no meu,
e a tua noite na minha, subirá lilás?
Quando é que o relógio sumirá e
não terei de andar para trás?
Quando é que te procurar será
te encontrar na flor do meu leito
e andar em círculos será
rodar o meu corpo no teu?
Quando é que a canção dirá
a palavra sul, sempre comigo,
e a estrela do norte no céu azul,
todas as horas,

Te buscar e te encontrar
será tempo achado,
no espaço, no abraço
onde nada caberá senão
o dia em que teu dia
entrar no meu
e a tua noite na minha..

Quando é que o teu dia deixará o meu,
e a tua noite na minha, sumirá?
Se o tempo que tudo conserta,
andar para frente, mesmo incerta?
Quando é que abandonar será
te encontrar de outro jeito, no meu peito
e andar em círculos será voltar para o mesmo lugar?
rodar outras canções, o meu corpo no teu.
Quando é que a tua vinda dirá,
a palavra dorme num leito, a palavra some,
sobe do mesmo jeito que a asa num voo,
para a estrela onde vou.


Te buscar e te encontrar
será tempo achado,
no espaço, no abraço
onde nada caberá senão
inteiro, no dia, na lua cheia
na noite que sobe lilás.

quinta-feira, 13 de maio de 2010


As asas do tempo
batem rápido,
num piscar de olhos
somos de novo eternidade

Levam e trazem partes,
nas penas, poeira de estrelas,
pedaços de astros, metades
minhas vontades,
na pele da eternidade




Como toda artista
se equilibra num fio,
purpurina criadora,
dançarina e leitora

Só na pista de uma
nova atração, arrepio,
beija brisas, sintoniza
com estrelas, coração.

Dorme.



Dorme o tempo em que não podias dormir.

Dorme não só tu,

Prepara-te para dormir teu corpo e teu amor contigo.

Dorme o que não foste e o que não serás.

Dorme o incêndio dos atos esquecidos,

A qualidade, a distância e o rumo do pensamento.


O pássaro volta-se,

As árvores trocam os braços,

Os castelos param de andar.


Dorme.

Que pena não poder me ver - puro - dormindo !

quarta-feira, 12 de maio de 2010

não sou homeopatia




podes me tomar inteira,
não sou homeopatia,
os versos que reparto,
são colisões de pedaços,
são meios de encobrir
quando acertas em cheio,
o pé quebrado da rima,
com advertências e
fraturas expostas,
tenho ciência da fatura,
nas mãos sujas de poesia,
o recibo cobra alopatia.

segunda-feira, 10 de maio de 2010

Acontece



Acontece, amor, agora que não estás perto,
que o centro mudou para a periferia,
sou puro sexo, meu corpo pirou,
é só um anexo do paraíso, moradia
suburbana, show, striptease total,
nada é para sempre, amor,
das voltas que dou à um fim banal;


Acontece, amor, que o animal dentro,
botou sua garra afiada cravada com paixão,
quando um bicho caça, não existe adestramento,
extinção ou instinto, sem escolha, nem momento,
é só um amplexo final, hemoptise fatal!
Acontece amor, que agonia! O último pensamento,
é o teu olho verde comendo meu coração.

domingo, 9 de maio de 2010

Sono e Despertar do Poeta


O meu nascimento me acordou.

a minha morte me adormecerá.

Tu levas um cadáver para onde amigo?

A vida é cheia de guizos

Tapa os ouvidos dorme, dorme.

dorme, dorme, a noite é boa,

o dia é oco como um guizo.

A minha morte me adormecerá

O meu nascimento me acordou.

tu levas um cadáver para onde, amigo?

Sol, sê testemunha que o fim já chegou,

que a carne morreu,

que a alma está viva.

Antes de tu te extinguires, Sol

olha o espírito continuando.


quinta-feira, 6 de maio de 2010

Se...

Se levaste as bem seladas
palavras do mensageiro,
salvas das garras e dos olhos que burlam,
e se depositaste o grão da fidelidade
na palavra digitada,
onde de olhos postos buscas verdades,

Se o fizeste, lembrando o rito essencial,
ao depositário do destino virtual...
E se deixaste a missiva na oceânica tela
existente por detrás dos códigos sutis,

Se na tua lingua cifrada enviaste a mensagem,
e piratas tomaram, assombrando senhas,
sangrando teus medos.

Se ofertaste a fala de tua alma,
e aves de rapina irromperam,
contaminada será a memória
dos gestos que ficarão na lixeira.
Desplugados serão os dias e as
noites e as luas que envias.