domingo, 27 de agosto de 2017

Caminho da lida
Vereda sem volta
Por onde leva a trilha
Senão ao costume
Do trote?
é um silêncio tal, uma nuvem aqui e ali, um sabiá, um bem-te-vi, nada espalha o meu suspiro, depois é um fogo de palha, um bater de asas, sou eu que me escuto a pensar nesta primavera visitante, posso imaginar a roupa secando lenta no seu tempo, fecho os olhos sobre o prato vazio, apuro a preguiça na beira do muro, saio por aí, salve o dia azul no seu manto fugaz, não é?
jardim pequeno do meu coração
prometo te amar
até a última gota d'agua
e a ti dedicar grão por grão
da minha terrena existência
olhar todos os dias
bem dentro dos olhos
flor por flor, folha por folha
afastar lesmas, formigas
xixi de gato
te proteger dos ventos
chuva de pedra e de abacate
segurar tua mão na tristeza
e na alegria, na saúde e na doença
já te amo infinita e diariamente
pra sempre, amém
de longe bem longe um amarelo
ocre no horizonte,
de fora esta fumaça
se espalha como respiração
no colchão de areia,
dentro o peito desvairado
pensa que é verão,
há sinais por todos os lados
metades e pedaços, penas,
hienas passeiam nos muros
lavo os olhos no olhar de ferro
onde o sal te desterra
mesmo assim, levas a vida
o rastro, o visgo, o som
tudo vai caminhando com o destino,
na tenda a paixão esvazia
dói minha visão com tanta luz
quero ver outra estação
descer do desatino vadio
atravessar a linha da pulsação
no ritmo úmido da nuvem carregada
deserto não é vazio, miragem
me leva palavra em qualquer verso
Me leva palavra
Em qualquer verso
Me leva palavra
Na primeira viagem
De domingo a domingo
Com a miragem
Deste país no meio
Palavra mentecapta
Diz às pessoas esquecidas
Que houve um dia melhor
Jogado como papel amassado
No meio fim
não é o corpo que anda
é o sentimento que voa
na velocidade de um átimo
no espaço colado de um
poro com outro
desconfio do teu silêncio
desacredito da tua mudez
desapego do teu penar
desrespeito tua palavra
desvencilho meu ar viciado
desdenhando teu quase nada
desatino com a falsa nudez
descrevo numa estrofe só
desditos escritos de perna quebrada
desconheço as regras, décimas faço

conheço tuas palavras de cor e salteado
ditos e floreios dos antepassados
escrevo sem dó, nem ré mi sol
atino em pegar carona no falsete
atento teus gestos amplos e secretos
ligo meu ser no teu, na mais alta voltagem
respeito as tantas noites cheias de ti
pego toda a roupa por lavar
acredito no sol, no vento e na flor
confio nos beijos, até um dia qualquer!
Panos brancos aqui e ali
Sobre a pele negra sobre o pelo meu
Pele branca sobre o negro escarcéu
Panos quentes sobretudo
A casta ficou no breu
Melhor seria ficar ao léu dos teus braços
negros negros,
como a flor que carrego no meio do céu

sexta-feira, 18 de agosto de 2017

a ti, só vou encontrar
dentro de mim;
em nenhum outro lugar
hoje fui vítima de suborno
pedi à mim para depositar
algumas crenças a fundo perdido
num banco de jardim
Caminho da lida
Vereda sem volta
Por onde leva a trilha
Senão ao costume
Do trote?

segunda-feira, 14 de agosto de 2017

segunda-feira, saí com o único olho de Horus que encontrei,
como águia caolha busquei Rá, meu rei
sua filha quererei para compartilhar alfajores,
Háthor seguirá sambando, espantando toda dor
embalando mortos com amor e bebendo rios de vinho
sim, o dia será longo como a sopa de legumes do vizinho,
que ferve há dias na escuridão de Set,
aceitarei devoluções tardias, os presentes bobos,
latas de cerveja e perfumes de jasmim

vejo o céu escuro pela janela, ela vê uma estrela
na porta, teu corpo ocupa todo o espaço, ele nada veste
troco o disco debaixo da pequena lâmpada, ela tem uma luz no nariz
pontos de vista diversos me maravilham, ele mostra os biceps
um frio vem de fora enquanto fumas, ela pensa que é atriz
do tempo faço partes que reparto pelos dias, ele lê pensamento
estrelas entram contigo quando retornas, ela fecha os olhos e ri
ocupo todos os versos no abraço, ele murmura que é brincadeira
não há mais lugar sem ti nem contigo, ela tem medo
digo as frases mais incoerentes, ele nada diz
porque tem uma primavera na sala, ela oferece café
pontos de vista diversos nos separam, ele quer neste instante
ele canta, cala toda a coisa não dita, ela todo tempo
pontos de vista diversos guardam nosso olhar, ele se agita
empilho os momentos e guardo no armário, ela grita
não há mais lugar sem ti, nem contigo, eles suspiram
faço tudo por você inclusive lhe deixar em paz
até o meio dia nada se faz
depois a vida começa
na sua careca passo um lustro
do seu nariz faço um retrato etrusco
o seu lábio é meu, assim é meu desejo!
até a barba onde dependuro beijos,
faz cafuné no meu pescoço
danço com o café na mão até derramar pelo seu corpo
e tudo retorna pro leito
do sonho que era ensaiado sem jeito
pra tornar sua noite um inferno
palco iluminado por onde erro

quinta-feira, 10 de agosto de 2017

cerca, cercado, vidro derretido,
arame metido entre espaços
amarrados, como eu, como tu,
sem se tocar, paralelos no ar
esperando o vazio quebrar