sexta-feira, 10 de novembro de 2017

de novo sonhei com o chico buarque
de novo eu era a moça do sonho que ele sonhava;
o clic súbito de uma luz,
nas mãos que vagavam
nas nódoas, nos pressentimentos das panelas por lavar,
desfizeram o dia, uma voz me conduz...
deixo homem e filho ao deus dará

mulher, vem me salvar deste mundo de araque
me seduz que estou a creditar
será coisa do face, da rede, do conhaque?
será causa do sonho que me sonhava?

mulher, vem me ocupar, tu é o meu destaque
tá faltando arroz, leite e oxigênio
na escola tem filho pra pegar,
vou sair pra caminhar sem arrependimento,
ocupar a valsa de uma cidade
prestes a dançar

esta noite sonhei com o chico buarque
estava a me cantar morena dos olhos d'água
não sou morena, nem ana de amsterdã, sou claque,
canção, mulher de almanaque, de lida e tesão

que sabe a duras penas quanto custou atenas
por debaixo das saias, quanto ataque,
gás lacrimogêneo, pancadas e bandeiras

mulher, sou tua cantiga,
tua amiga, a mesma
que refletia tua estrela no espelho do corredor

em vez de lavar roupa vou sair pra redenção
na pista circular, chamar meu nome sem parar

coisa antiga é o nosso amor
é sanha, é tara à moda antiga
deixei louça na pia, migalhas na mesa e a minha dor,
um ciclone a rodopiar
vou sair pra caminhar

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