quinta-feira, 4 de fevereiro de 2010

Verborragia

Um escritor precisa mesmo estar de sangue doce, para não se esvair, totalmente, no processo sangrento da criação. Aliás, é um verdadeiro hara-kiri com a pena, enquanto, ensangüentado, o papel pulsa com o sangue novo.
Respirar fundo. Tchum! Uma fisgada mental!
Foi puncionada a veia da inspiração.
Ser ou não ser sanguinário? Eis, a grande doação!
Uns dizem, que uma revolução só se faz com sangue total; outros, de sangue azul, com plasma.
Enquanto verte a discussão, os de sangue quente se puncionam mutuamente, empapando a razão.
A maioria gela o sangue nas veias, até para evitar mais derramamento de sangue contaminado no papel.
Mas, se o sangue, sobe mesmo à cabeça...aí sim, só a sangria é terapêutica.
O sangue, não querendo se dar por vencido, porém altruísta, anônimo e involuntário, se esvai para a academia anêmica de glóbulos.
Anti-corpos irregulares, substâncias pirogênicas, citomegalovírus, uni-vos!
O final está próximo.
De transfusão em transfusão, nada se cria, tudo se clona...
Se não for compatível, é versão hemolisada, matéria rompida, veia perdida.
Talvez a admiração consangüínea, o pacto de sangue e o bife de fígado, façam o estilo vencer.
Mesmo ABOs tipados, olhares cruzados, sangrias coniventes e sorologias simpáticas, de nada adiantem.
A sobrecarga circulatória foi produzida, e a hemodinâmica, em franco desequilibrio, fez o verbo estancar.
Exangue a pena se entrega.
Nem papa de hemáceas, nem sangue fresco lhe basta.
Só restam coágulos, em vagaroso ritmo, à Transilvânia.

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