terça-feira, 23 de agosto de 2011

MARCELINO FREIRE


Rapidez. Concisão. Dinamismo. Precisão. Bom humor. Acidez. São essas as promessas do escritor Marcelino Freire para sua coluna, que estreia amanhã no caderno Metrópole. Antenado com as redes sociais, Marcelino quer trazer para seu espaço a agilidade do Twitter e a interação do Facebook. "Sempre gostei das micronarrativas", explica. "E quero interagir com os leitores, quero que eles participem também de meu espaço."

Marcelino ainda pretende fazer de sua coluna, que será publicada quinzenalmente a partir de amanhã, um local para celebrar a diversidade de São Paulo e comentar os absurdos que percebe no cotidiano da metrópole. "Escreverei sobre as coisas que me afetam. Sem deixar de lado o meu afeto pela cidade", trocadilha. "Sempre com atitude, humor e personalidade."

Autor dos livros AcRústico (1995), eraOdito (1998 e nova edição em 2002), Angu de Sangue (2000), BaléRalé (2003), Contos Negreiros (2005), RASIF (2008) e o recém-lançado Amar É Crime, Marcelino é um dos mais elogiados autores da geração contemporânea. Vencedor do Prêmio Jabuti em 2006, é o criador e organizador da Balada Literária, festa anual que reúne escritores e leitores em bares, centros culturais e livrarias da Vila Madalena.

Nascido em Sertânia, Pernambuco, em 1967, Marcelino é o caçula de 14 irmãos - dos quais somente nove vingaram. Teve o estalo de se tornar escritor aos 9 anos de idade, quando já morava no Recife. Leu um poema de Manuel Bandeira (1886-1968) no livro escolar de um irmão e ficou fascinado. Pediu uma obra dele de presente. Ganhou Estrela da Vida Inteira. E a vontade de ser poeta confirmava a observação constante do pai, que insistia, desgostoso, que Marcelino era um "menino muito aluado".

A obsessão por micronarrativas veio aos 16 anos, quando leu Historias de Cronopios e de Famas, clássico de Julio Cortázar (1914-1984). "Descobri que podia escrever curto e sobre assuntos improváveis", explica. Esse gosto se aprofundou com os haikais de Paulo Leminski (1944-1989), os microcapítulos de Machado de Assis (1839-1908), o texto conciso de Graciliano Ramos (1892-1953), as fábulas de Franz Kafka (1883-1924), as frases curtas de Ernest Hemingway (1899-1961)... "E até com a Bíblia, dividida em versículos que cabem nos 140 caracteres do Twitter", acrescenta.

Essa predileção por dizer muito em poucos caracteres veio muito antes do Twitter, portanto. "Eu não entendia o que era isso de Twitter que me mandavam entrar. Era um novo túnel em São Paulo? Uma nova estação de metrô?" Rendeu-se em 4 de junho de 2009 - desde então, já são mais de 1,2 mil posts e 5,2 mil seguidores em seu @marcelinofreire, onde contos curtos não faltam.

Biografia. Adolescente, Marcelino arrumou emprego em banco. Começou como office-boy, depois virou escriturário e, por fim, revisor. Essa rotina durou até 1989, quando decidiu pedir a conta para tentar tornar-se escritor - ele já fazia faculdade de Letras, curso que jamais concluiu.

Dois anos depois, mudou-se para São Paulo, cidade que ainda não conhecia. "Lancei meu último livro, Amar É Crime, em 13 de julho. Exatamente 20 anos após me mudar para São Paulo. E, veja só, já vivi mais tempo em São Paulo do que em qualquer outra cidade", comenta.

Ao chegar, morou de favor na casa de um amigo em Aricanduva, na zona leste. Uma edícula. Mas conseguiu rápido trabalho de revisor em uma agência de publicidade e logo se mudou para uma travessa da Avenida Paulista. Viveu também no Bexiga, até encontrar seu cantinho paulistano: o bairro da Vila Madalena, na zona oeste, seu endereço desde 1995. Mora sozinho. Ou melhor, na companhia de quase 400 pinguins de geladeira - sua absurda coleção.

Entre trabalhos fixos e frilas, atuou como revisor publicitário até 2006. "Enquanto esperava um anúncio de margarina, escrevia um conto." Assim foi lançando seus livros. Até ter uma agenda como a de hoje - participa de mais de cem eventos literários por ano, viajando a grandes capitais, como Rio, Salvador, Brasília e Recife, e a cidades como Cachoeira (BA), Campina Grande (PB), Ourinhos (SP), Passo Fundo (RS) e São Leopoldo (RS). "Sou militante da literatura, uma versão arrumadinha do vendedor de poesia da frente do Masp, um camelô de meus livros."


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