quarta-feira, 2 de dezembro de 2009

paisagem



Desta cadeira giroflex velha sem braços me amparo para ver a cidade que entardece. O céu nubla e desvenda o cinza, o vento carrega nuvens, traz de volta o azul. Eu desemaranhando pensamentos de fim de tarde numa cidade que se prepara para o sono, cidade que dorme que perde a memória. Desta janela sobre os pátios do Bonfim ainda casas com telhados trazendo música de outros telhados teclados por algum músico em Paris sonhando telhados do Bonfim. Um fiozinho de luz desenrola um jato na direção do parque pegando galhos e folhas no reflexo dum temporalzinho que molhou o jardim e os pés de alecrim e manjericão. Perto o piado do passaredo segue a sina despedindo o dia. No fundo o ronco do trânsito aumenta e permanece mesmo depois do silencio perto aparecer e a sombra baixar como uma amiga abraçando a esfera azulada que cobre este teto. A cidade mais clara longe cai na luz do rio e escurece, a cidade mais perto se ilumina. Busco a linha que desenhei no tempo em que ficava a desenhar e me pego largando a mesma linha sentada nesta giroflex sem braços na beira do dia que se despede. O rio continua na corrente da paisagem onde me emaranhei. Anoitecei, vou lá dentro consertar o pé do banquinho e já volto.

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