quinta-feira, 17 de dezembro de 2009

as folhas de Setembro


A cadela viu o papel jogado fora, mais um que Setembro jogava de cima do viaduto. Como flores de malmequer ele desfolhava os papéis, o fardo que desfazia, voo lento , vento fraco, o carro embaixo passando, o papel colando no vidro, um motorista freiando leitor de parabrisa no meio do desastre,

porque não consigo segurar as palavras porque as palavras escapam porque as palavras me estrangulam é que te escrevo de dentro deste caftan de flores gigantes com cheiro de mitsouko com este corpo quente com este calor ardente com as palavras que estão presas palavras só tuas porque não sabes vieram de longe guardadas a sete chaves tenho ficado muda cariátide invisível no templo em ruínas e preciso voltar são palavras do passado não sabes devo contar devo cortar a jugular devo sangrar agora que te encontras preso entre este quarto e o passado agora que vives respirando o passado e repetindo as fórmulas da tua poiética nesta tarde entre a cristaleira e a colcha de flores o pó cobriu as palavras eu ase espanei e elas borbulharam na boca esta boca

foi o que conseguiu ler antes da folha voar novamente e ir pro chão.

Um comentário:

  1. Oi Isolde, recebi um comentário seu no meu blog, http://www.integradaemarginal.blogspot.com, e respondo por aqui para dizer que há um poema seu na última edição do, http://www.panoramadapalavra.com.br/.
    Você sabia?

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