terça-feira, 27 de outubro de 2009

Setembro e a cadela


"Amo meu dono", era a frase que se lia na coleira da cadela que troteava atrás de Setembro, que por sua vez empurrava um carrinho cheio de papel, livro e jornal. O ar resoluto dos dois demandava espaços na margem da via, ele empurrando enérgicamente sua biblioteca, ela balançando tetas e ventre, meio tonta do trânsito, a olhar ora para a esquerda, ora para a direita, a escorrer da língua fiapos de gosma que o vento se encarregava de recolher. O mesmo vento que fazia voar uma folha ou outra pela rua e que a cadela, se soubesse, leria "com uma lupa olhei sua mão, seus poros e ossinhos, queria reconhecer na foto à minha frente o que havia para reconhecer, procurei os rastros, quem sabe os gestos haviam deixado pedacinhos, como a pele da eternidade que vai descamando nas asas do tempo, deixando penas, vazios, a luz que assombra e num piscar de olhos desaparece".

Nenhum comentário:

Postar um comentário