que s`apelle Zelahmak
-entre l'âme et le corps-
comme un arrière goût de never more,
fico com a alma e sua tatuagem





o guarda-chuva é uma aranha que não descola da teia
tempestade, torce e vira do avesso
varetas chacoalham as patas
dançam para o céu
a esquina chega, vence o vento
que açoita o inseto
entregue e cansado, murchando as arestas
é o inicio da noite que finda a batalha
a aranha está morta.
sua teia escorre e fecha sobre mim




Tão doce tocar, tão fácil olhar, beijo sideral, anos luz demorado na boca, tão bom de amar, que nem um silêncio, que nem a chuva vai apagar, tão leve de ver... leve-me lentamente enquanto calejo letras, depois dele leio no voo, letargo, deleto fardo lento, ambivalente, mais leve que o ar, lentamente beijo lento, paletós levitam aleatórios, lepdópteros borboletam amarelos no tempo, depois dele.
tem uma coisa que vi que não quero desver, uma lembrança que não quero esquecer, um lugar que não quero deixar, alma silenciosa. tem um mar que atravessei que me atravessou, um sal entranhado na pele que não quero raspar, uma viagem que mingua a lua, alma inquieta, e por não saber, a cada manhã acordo com a mesma imagem, da noite clara e distante no mapa do céu invernal onde naufraguei, alma cansada! |

Já te despedes de mim, Hora.
Teu golpe de asa é o meu açoite.
Só: da boca o que faço agora?
Que faço do dia, da noite?
Sem paz, sem amor, sem teto,
caminho pela vida afora.
Tudo aquilo em que ponho afeto
fica mais rico e me devora.
Queres-me terno, dizes abominar a violência
e não percebes que o tesão nada tem a ver com delicadeza
Queres-me sábio
dizes desejar ser feliz
e não percebes que na felicidade há algo de obsceno
Queres-me olímpico
dizes invejar o meu gozo agitado
e não percebes o êxtase voluptuoso na tua venturosa calma
Queres-me santo
dizes ansiar pelo sublime
e não percebes que a língua que profere a palavra sagrada
é a mesma que lambe o cu
Hoje quando chegares na tua sala haverá sol, pois ele costuma aí estar em meados de agosto depois do meio dia. Acho que não sentarias de frente para a luz, mas quando sentares poderá haver uma claridade inundando o teu rosto e, pensarás...Não, não pensarás em nada, talvez abras algum livro, escolhendo aquele que está no meio da pilha, ou talvez tenhas pressa em saber dos teus e-mails ou nada disso, talvez folheies vagarosamente, ao acaso, um texto qualquer. Sentarás de frente para a luz ou não, e pensarás em alguma coisa incomum como a sombra que acompanha a luz, mas isso não é incomum, seria se não houvesse uma delas, pois uma não vive sem a outra, pensarias e olharias assim, com o teu jeito incomum, imagino que poderias pensar deste jeito, mas também poderias não sentar de costas para o sol e sentir o sol inundando o teu rosto, mas ficar de pé por um infindável momento como costumas fazer por momentos infindáveis, como uma asa que plana no seu exato prumo onde o ar mais pesado sustenta o voo. Quando abrires o que escrevo haverá sol no teu rosto, pois imagino que em agosto depois do meio dia, ele bate nesta sala neste momento em que lá te encontras, que o teu rosto estará sereno e o teu olhar esverdeado muito claro, assim como a folha que brilha no sol, mas que poderia ser negro como a densa sombra da árvore do outro lado da rua quando pensas no teu filho longe de ti. Talvez um pio possa ser ouvido e nele pouses os teus olhos e também percebas que há flores que se abrem pois o sol desperto depois de tanto tempo de chuva, aumenta as possibilidades de se expandir para todas as aberturas, onde pequenos rastros luminosos poderão tocar o teu rosto que se voltará para um pensamento, ou não. Olharás a tua mão pousada sobre um livro, nesta hora em que o único gesto impensado é a tua mão lisa em descanso sobre um livro qualquer, ou então pensarás que hoje é mais um dia que se abre para o incomum, repleto de luzes e de sombras, pois a luz causa esse efeito onde se esconde, e na sombra um frescor também incomum pois o sol refletirá essa diferença onde não estiver e, quando o sentires, talvez penses no voo de todos os pequenos e grandes seres que voam e nas cores de tudo que se move deixando corolas e pétalas e perfumes e na tua vida que se abre para mais um dia incomum, na quase primavera para onde o tempo caminha. Eu já não estarei no teu pensamento, pois os pensamentos escoam velozes, não tanto quanto as lembranças, mas poderás lembrar um pouco do dia, não, não era dia, seria uma noite clara, a primeira sem frio e sem chuva após uma temporada intensa de frio e de chuva, portanto não havia mais chuva e esta era a senha para vires bater à minha porta porque a enchente de chuva havia parado, mas isso já terá sido quase esquecido, pois a noite passava veloz como passam os pensamentos ou talvez passasse de um jeito incomum onde as palavras não se completam ou ficam mais lentas pois o álcool nos copos sumia enquanto o teu pensamento obsedava idéias improváveis, ou quase idéias de prováveis lembranças misturadas com palavras incomuns e acontecimentos sem nexo ou acontecimentos prováveis e sentimentos improváveis. Poderia parecer que havia um sentimento nostálgico neste momento, uma confissão de outros momentos prováveis que o álcool diluia, neste sussurrar involuntário de probalidades. O instante improvável se insinuaria, como sempre se insinuou, penetrando rigorosamente na memória, para que o gesto futuro fosse provável, não como um ato comum, mas como um silencioso caminho há muito traçado, de forma sutil e sinuosa que só pudesse acontecer num tempo de quase luz e sombras, um átimo depois da chuva, uma ressaca onde se pudesse penetrar, saciar probabilidades, como um inventário de dissimulações, uma sutil preparação ao caminho sinuoso e excêntrico há muito vislumbrado, não em instâncias comuns, mas num trajeto incomum como são aqueles que percorremos insensadamente. Mesmo com o peso ou a leveza dos bêbados, o rumo estaria consignado na probalidade da saliva que decidia a sede a ser medida, facilitaria um trecho estreito, um atropelo ancestral onde passos e sombras, uma vida ou mais penetraria no quarto e na cama e, como um prenúncio, uma luz de abajur se acenderia junto ao teu rosto, e na claridade que te ofuscava, eu já te pensaria na tua sala e no sol que lá permanece em agosto, depois do meio dia. Com a mesma sede que alimenta e consome os teus gestos, a tua gana consumiria desmedidamente a fome e a sede de quem se alimenta de forma incomum, lançaria mãos e dedos também em tudo que fosse provável de ceder à eles e não haveria medidas improváveis de impedir um confronto onde a sede e a fome enfrentam situaçoes incomuns.