segunda-feira, 12 de julho de 2010

Inverno





Quando eu me for, no meio da chuva fina,

Planta-me uma folha em si menor,
Num sol maior dissonante
De bergamotas descascadas na soleira
Do inverno da minha infância.

Devagar como quem aprende a soletrar
Murmuro os nomes de minuanos,
Ventos navegantes que me alçaram ao sul,
Primeiro desterro,
Circulando ao redor do mistério.

Nada será lembrado que não for verdadeiro,
Todas as pequenas mentiras e todos os enganos
Serão somados ao receituário de vacinas.
Quero cantigas antigas e rocks caseiros.
Palavras como pão com manteiga, café com leite.

Mas toda vez que vier a chuva fina, como hoje,
Te levo também, inverno ensaiando
O caminhozinho lilás, aquarela
De cais e nuvens desfiadas,
Te embarco junto com o mais sagrado.

E quando eu for, memória de cascas,
Linha circular, pó de umbigo, rirei,
À toa, vadia como as rotas que me levaram,
Encharcada de sal, náufrago avistando a terra
De uma primavera.

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