sábado, 31 de outubro de 2009
Sur le Nile
que s`apelle Zelahmak
-entre l'âme et le corps-
comme un arrière goût de never more,
fico com a alma e sua tatuagem
terça-feira, 27 de outubro de 2009
Setembro e a cadela
domingo, 25 de outubro de 2009
Conversan con el paisage
como falar da paisagem?
olho estrela, brilho extinto
e a lentidão sideral
com que fere exata
o que iluminaria
no vazio da porta entreaberta.
no horizonte arde ex-amadamente,
ainda rosto ausente.
oriente-se luz!
a máscara da palavra
examina a penumbra...
o desejo penetra de forma detalhada as
dobras do que amas!
olho a paisagem e sentada
ante a vastidão da monotonia,
sintonizo eclipses
e rádios pirata
(a palavra esmurra o muro duro).
Morro depressa,
É tão desigual a descoberta!
rogo à palavra,
ouço seu imenso clamor...
não, nenhum rosto debruçado sobre mim!
sábado, 24 de outubro de 2009
Príncipe
Era de noite quando eu bati à tua porta
e na escuridão da tua casa tu vieste abrir
e não me conheceste.
Era de noite
são mil e umas
as noites em que bato à tua porta
e tu vens abrir
e não me reconheces
porque eu jamais bato à tua porta.
Contudo
quando eu batia à tua porta
e tu vieste abrir
os teus olhos de repente
viram-me
pela primeira vez
como sempre de cada vez é a primeira
a derradeira
instância do momento de eu surgir
e tu veres-me.
Era de noite quando eu bati à tua porta
e tu vieste abrir
e viste-me
como um náufrago sussurrando qualquer coisa
que ninguém compreendeu.
Mas era de noite
e por isso
tu soubeste que era eu
e vieste abrir-te
na escuridão da tua casa.
Ah era de noite
e de súbito tudo era apenas
lábios pálpebras intumescências
cobrindo o corpo de flutuantes volteios
de palpitações trémulas adejando pelo rosto.
Beijava os teus olhos por dentro
beijava os teus olhos pensados
beijava-te pensando
e estendia a mão sobre o meu pensamento
corria para ti
minha praia jamais alcançada
impossibilidade desejada
de apenas poder pensar-te.
São mil e umas
as noites em que não bato à tua porta
e vens abrir-me
sexta-feira, 23 de outubro de 2009
Poeminha psicotrópico para Akineton
Recolherei todas as Stelazinas vencidas no céu
e te Prometazina que transformarei,
e Dissulfiran os Biperidenos
em Diazepans 5 e 10
Gardenais serão livres no espaço
Voando sem Anatensol
Mesmo assim, Epelin que me
Imipraminas com Tegretol 25.
Todo ele
Amplictilmente serei feliz,
Louvarei Hidantoinatos em tua
Amitriptilina, bem como
Carbasepinarei Lítios e
mais Carbolitios. Oh, sais!
Por fim, Haldol me Trifluoperazinará
O coração e o Tryptanol a razão.
Antabus, assim seja.
quinta-feira, 22 de outubro de 2009
segunda-feira, 19 de outubro de 2009
Guarda-chuva
o guarda-chuva é uma aranha que não descola da teia
tempestade, torce e vira do avesso
varetas chacoalham as patas
dançam para o céu
a esquina chega, vence o vento
que açoita o inseto
entregue e cansado, murchando as arestas
é o inicio da noite que finda a batalha
a aranha está morta.
sua teia escorre e fecha sobre mim
JARDIM DE LOU LIM IEOC
domingo, 18 de outubro de 2009
Carta
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Por que você estuda tanto? Que segredo está procurando? A vida logo o revelará a você. Por mim, já sei tudo, sem ler nem escrever. Algum tempo atrás, talvez uns dias, eu era uma moça caminhando por um mundo de cores, com formas claras e tangíveis. Tudo era misterioso e havia algo oculto; adivinhar-lhe a natureza era um jogo para mim. Se você soubesse como é terrível obter o conhecimento de repente - como um relâmpago iluminando a Terra! Agora, vivo num planeta dolorido, transparente como gelo. É como se tivesse aprendido tudo de uma vez, numa questão de segundos. Minha amigas e colegas tornaram-se mulheres lentamente. Eu envelheci em instantes e agora tudo está embotado e plano. Sei que não há nada escondido; se houvesse, eu veria.
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Até amanhã, tenhamos uma boa noite, e lembre-se de que os grandes amigos têm que gostar muito, muito, muito, muito, muito, muito, muito, muito um do outro... com M, como em musica, ou em mundo.
Primeira premissa: Os grandes amigos devem amar muitíssimo uns aos outros.
Segunda premissa.: Alex e Friducha são grandes amigos.
Conclusão: Logo, Alex e Friducha devem amar muitíssimo um ao outro.
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Credenciais
Se levastes as bem seladas palavras do sonho,
salvas das garras do sal e do naufrágio,
e se depositastes o grão da fidelidade
na memória, onde de olhos postos, buscamos a Mãe.
Se o fizestes, lembrando o rito essencial
ao depositário do destino,
E se deixastes a missiva no liso oceano
existente por detrás da margem sutil,
Se se na tua lingua levastes o mar,
a palavra alcançará cais.
Se a ofertastes assim, tal zelo se tomará,
que sereno, será o destinatário,
ao receber o signo do emblema.
sexta-feira, 16 de outubro de 2009
Nahr el Bered
Melhor não!
Seria como lamber o chão onde me vomitei,
melhor não!
A carne arderia duas vezes na mesma
alma.
Melhor não!
Apagaria todo o sol,
esta chaga aberta com o fogo da tua palavra,
Como no campo de Nahr el Bered no
amanhecer,
como a cinza na devastação,
só nuvens e carne putrefata.
Nenhum anjo sobrevoaria,
nenhuma asa tocaria
o rosto opaco do abandono.
Mil mundos passariam,
juntaria a memória do deserto e morreria de sede...
Nenhum rosto para beber neste mundo.
Melhor não!
Hoje
hoje eu quero que o dia passe devagar
assim como os pingos indecisos do céu
hoje eu queria assistir o meu próprio filme de trás para frente
quem sabe percebo onde vacilei e acertei
hoje queria ter 100 anos pra dizer o que valeu e o que deveria esquecer
pareceria sábia sem mostrar as dúvidas que me cercaram
hoje a vida passou devagar e parou
como num dvd riscado de tanto ser visto
Depois daquele beijo
quinta-feira, 15 de outubro de 2009
Mapa do Náufrago
tem uma coisa que vi que não quero desver, uma lembrança que não quero esquecer, um lugar que não quero deixar, alma silenciosa. tem um mar que atravessei que me atravessou, um sal entranhado na pele que não quero raspar, uma viagem que mingua a lua, alma inquieta, e por não saber, a cada manhã acordo com a mesma imagem, da noite clara e distante no mapa do céu invernal onde naufraguei, alma cansada! |
quarta-feira, 14 de outubro de 2009
O poeta
Já te despedes de mim, Hora.
Teu golpe de asa é o meu açoite.
Só: da boca o que faço agora?
Que faço do dia, da noite?
Sem paz, sem amor, sem teto,
caminho pela vida afora.
Tudo aquilo em que ponho afeto
fica mais rico e me devora.
"A dupla face do querer"
Queres-me terno, dizes abominar a violência
e não percebes que o tesão nada tem a ver com delicadeza
Queres-me sábio
dizes desejar ser feliz
e não percebes que na felicidade há algo de obsceno
Queres-me olímpico
dizes invejar o meu gozo agitado
e não percebes o êxtase voluptuoso na tua venturosa calma
Queres-me santo
dizes ansiar pelo sublime
e não percebes que a língua que profere a palavra sagrada
é a mesma que lambe o cu
"Setembro"
"setembros agora são assim... são nada! nenhum passarinho, sem passarada. sem flores, sem sóis. só dores. Os setembros já não brilham, pela janela enluarada. Agora são assim: sem cor, sem primavera. São chuva de inverno, são falta de luz, são trevas, são nada."
E logo abaixo, no papel manchado, um pedaço de palavra, andr, e nada mais.
meu amô
Sándor dizia
para o psicanalista
a pista é apalavra,
-não se avexe com a
fobia-
do outro lado da ponte
-Buda ou Pest-
dizia
meu primo golpista
antes de se atirar no rio.
propôs casamento
entre duas teorias:
O divã e a mente malsã
num forró de pé de serra,
um tipo de alegoria
onde édipo e ana klein
dançam e sacodem terra.
- deu no que deu-
é só um palpite tantã,
(acredite doutor beto),
mas Sándor estudou,
pesquisou, discípulo foi,
quase filho do pai,
quase pai de uma anã.
mas as teorias são assim,
há quem acredite e
repita.
se Sándor psicanalista foi,
sua prima malabarista também.
pulou, equlibrou,
se esborrachou e
repentista se tornou.
terça-feira, 13 de outubro de 2009
Das improbabilidades
As palavras surgiram no amanhecer, no meio de nuvens leves de um dia de agosto onde a chuva e o frio tinham esquecido de se apresentar e os fantasmas de uma vida ou mais permaneceriam numa cama, numa cozinha, numa xícara de café, ou mesmo no botão arrancado da tua camisa num ímpeto de desnudar os sentidos que se colam em todos os tecidos, por dentro dos olhos, na corrente que arrasta todo o provável jorro de luz, de sombra e desejo. Em silencio eu reverenciaria a sede onde salivam os beijos incomuns, a desordem dos lençóis, o botão caído, o cheiro único da tua pele, o toque úmido e morno dos poros e intumescências e de todas as secreções do desejo e a vontade de não findar, pois era improvável que percebesses que eu assim fazia para deixar as tuas lembranças se irem com a noite, junto com os fantasmas trazidos pelas sombras do quase dia duma noite que ficou numa quase luz duma provável noite de agosto onde o teu corpo e o meu e uma vida ou mais percorreu por algumas horas, gestos e improváveis lembranças que com um movimento da tua mão sobre o teu rosto, deixarás na luz, de um provável sol de agosto na sala onde te encontras de frente para a claridade.