
marinheiro, me leva
longe, deriva
no abraço,
lábio astro,
sussurra palavras
no centro da noite
nua em tua rota
não serei mais uma,
estarei una, corpo e
silêncio
dentro do meu coração
cabe mesmo um deus bem grandão
bem cheio da imprecisão
de quem tudo sabe
mas nada diz
pralém da ponta do seu nariz
Quando eu me for, no meio da chuva fina,
A viagem não acaba nunca.
Só os viajantes acabam.
E mesmo estes podem prolongar-se em memória,
em lembrança, em narrativa.
Quando o visitante sentou na areia da praia e disse:
“Não há mais o que ver”, saiba que não era assim.
O fim de uma viagem é apenas o começo de outra.
É preciso ver o que não foi visto,
Ver outra vez o que se viu já,
ver na primavera o que se vira no verão,
ver de dia o que se viu de noite,
com o sol onde primeiramente a chuva caía,
ver a seara verde, o fruto maduro,
a pedra que mudou de lugar,
e a sombra que aqui não estava.
É preciso voltar aos passos que foram dados,
para repetir e
traçar caminhos novos ao lado deles.
É preciso recomeçar a viagem.
Sempre.
José Saramago
"Então é assim o fim dos tempos."
Pensou, segurando a pequena mão e observando o céu escuro e turbulento enquanto surgiam bolas incandescentes, causando incêndios à medida que caíam. Preocupou-se se estariam a salvo, para onde poderia correr, e foi interrompido.
- Olha, pai, estrelas cadentes. Vamos fazer um pedido?
"Será que ainda dá pra desfazer tudo e voltar no tempo?", desejou, e arrependeu-se de não ter procurado, um minuto mais, a última foto dos três juntos.
Tua música, tu, a musa,
Recolhe-me quarto vago,
Crescente o paraíso no meio do dia,
Tua espada brilha e nela me atravesso,
Alaúde.
Tenho pressa no passar da lâmina,
Ela que encoraja as preces
Antes do alvorecer, onde te deixarei ir.
Enquanto príncipe, me tens,
Nas púrpuras entranhas
Onde semeias meu corpo.
Então, como quem parte,
Deito-me na chuva
Para que a primavera me tenha flor,
Para que o verão, colheita e sumo,
Vinho que permanece depois de terminar.