segunda-feira, 9 de novembro de 2009


Morrerei de um câncer na coluna vertebral

Será uma noite horrível

Clara, quente, perfumada, sensual

Morrerei de um apodrecimento

De certas células pouco conhecidas

Morrerei de uma perna arrancada

Por um rato gigante surgido de um buraco gigante

Morrerei de cem cortes

O céu terá desabado sobre mim

Estilhaçando-me como um vidro espesso

Morrerei de uma explosão de voz

Perfurando minhas orelhas

Morrerei de feridas silenciosas

Infligidas às duas da madrugada

Por assassinos indecisos e calvos

Morrerei sem perceber

Que morro, morrerei

Sepultado sob as ruínas secas

De mil metros de algodão tombado

Morrerei afogado em óleo de cárter

Espezinhado por imbecis indiferentes

E, logo a seguir, por imbecis diferentes

Morrerei nu, ou vestido com tecido vermelho

Ou costurado num saco com lâminas de barbear

Morrerei, quem sabe, sem me importar

Com o esmalte dos dedos do pé

E com as mãos cheias de lágrimas

E com as mãos cheias de lágrimas

Morrerei quando descolarem

Minhas pálpebras sob um sol raivoso

Quando me disserem lentamente

Maldades ao ouvido

Morrerei de ver torturarem crianças

E homens pasmos e pálidos

Morrerei roído vivo

Por vermes, morrerei com as

Mãos amarradas sob uma cascata

Morrerei queimado num incêndio triste

Morrerei um pouco, muito,

Sem paixão, mas com interesse

E quando tudo tiver acabado

Morrerei.

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