sábado, 6 de agosto de 2011

sexta-feira, 5 de agosto de 2011

A arte de perder

“A arte de perder não é nenhum mistério;
Tantas coisas contêm em si o acidente
De perdê-las, que perder não é nada sério.

Perca um pouquinho a cada dia. Aceite, austero,
A chave perdida, a hora gasta bestamente.
A arte de perder não é nenhum mistério.

Depois perca mais rápido, com mais critério:
Lugares, nomes, a escala subseqüente
Da viagem não feita. Nada disso é sério.

Perdi o relógio de mamãe. Ah! E nem quero
Lembrar a perda de três casas excelentes.
A arte de perder não é nenhum mistério.

Perdi duas cidades lindas. E um império
Que era meu, dois rios, e mais um continente.
Tenho saudade deles. Mas não é nada sério.

– Mesmo perder você (a voz, o riso etéreo
que eu amo) não muda nada. Pois é evidente
que a arte de perder não chega a ser mistério
por muito que pareça (Escreve!) muito sério. ”


quarta-feira, 3 de agosto de 2011

poeminha psicotrópico para akineton




recolherei as stelazinas vencidas no céu

e te prometazina que transformarei,

e dissulfiran os biperidenos

em diazepans 5 e 10

gardenais serão livres no espaço

voando sem anatensol

mesmo assim, epelin que me

imipraminas com tegretol 25.

todo ele

amplictilmente serei feliz,

louvarei hidantoinatos em tua

amitriptilina, bem como

carbasepinarei lítios e

mais carbolitios.

oh, sais!

por fim, haldol me trifluoperazinará

o coração e o tryptanol a razão.

antabus , assim seja

terça-feira, 2 de agosto de 2011

As fontes


Um dia quebrarei todas as pontes
Que ligam o meu ser, vivo e total,
À agitação do mundo do irreal
E calma subirei até às fontes.

Irei até às fontes onde mora
A plenitude, o límpido esplendor
Que me foi prometido em cada hora
E na face incompleta do amor.

Irei beber a luz e o amanhecer,
Irei beber a voz dessa promessa
Que às vezes como um voo me atravessa,
E nela cumprirei todo o meu ser.

segunda-feira, 1 de agosto de 2011

passagem


quantas letras tem o alfabeto

quantas palavras se pode fazer

quanto tempo se precisa pra viver

posso viajar à lua duas vezes

não verei luar

e posso no intervalo

me apaixonar

ter filhos

me porei a amar

mais ainda as palavras

que não escrevi

com as letras do alfabeto

no tempo que vivi




apressa-te lentamente
enquanto me movo no teu corpo,
tua língua inscreve outras línguas
deixando o óleo da tua passagem

escreve-te lentamente
enquanto deslizo no teu sexo
e deixas a morte e deixas o bem
como sombra alongada sobre mim

acende lentamente uma a uma
as constelações que pulsam dentro de mim,
tua pele reflete na minha o lugar marcado
que há de ficar fulgurando dia e noite

vive lentamente enquanto desertas de ti,
e de mim, no reencontro vive,
deixa-me lentamente
com o universo estar