longe tange dia longe
adiante-se rega da ultima luz
reflexo verde na dança leve da tarde
ninho lento, colo rosa,
gomo de laranja, gaita de boca, bosta de vaca
longe a noite empurra o paredão de estrelas mais além
vaga lumes vaga alhures dormem na grama
sonhando com a madrugada,
longe o balido de buzinas
adormece na cidade que se acende
o grande céu chumbo
me desgarra
perto o brilho silencioso das constelações
atravessa meu peito
terça-feira, 15 de dezembro de 2015
segunda-feira, 23 de novembro de 2015
quinta-feira, 19 de novembro de 2015
terça-feira, 3 de novembro de 2015
e depois de todo aquele tempo
irão descobrir ensimesmados que pouco houve
e o vazio tomará conta
e a incredulidade que lhes dará os dias
findará a lembrança dos beijos, frases, sexo
começará a rotina de dias algentes
e serão mudos ao apartar as coisas da vida em comum
estará por fim um anúncio de vende-se apartamento
chamarão amigos e distribuirão a mobília
inventarão novos dias
acenderão velas pelas noites
nas fotografias ainda se esconderão
um ao outro dentro de gavetas em mesas de cabeceira
terça-feira, 27 de outubro de 2015
sexta-feira, 23 de outubro de 2015
o homem
de tudo que vejo, penso no tempo que passa lento nos corpos desenhados em dez segundos
e nos dez segundos que fixam todo o tempo
no tempo que anda pedaço por pedaço do mesmo jeito, mas que parece ter pedaços mais longos que outros, onde se quer deixar ficar como uma flor num vaso, ou um regaço morno que nos cola na pele
o frio o calor a casa que se estende para o corpo deitar
penso no corpo do homem que morreu esta noite
que sentiu dor que sentiu a eternidade em poucos segundos num leito branco
penso no homem que partiu
no homem que plantava e que colhia, cozinhava e gritava com voz rouca e alta
para alimentar outros homens
penso no tempo que passou, um tempo longo
escolhendo um caminho, uma mulher, uma família, um teto
e todas a panelas e seus longos segundos que se fizeram ferver experimentando nos temperos do homem um outro tempo
penso no tempo que o homem leu e descobriu segundos menos curtos e horas mais longas
e ficou andando longas distancias para voltar sobre seus passos de aventura e cura
penso no tempo de sol e de água que passava rápido como um acampamento que se faz no caminho
para alcançar outra praia, outra pescaria, outro tempo para descansar
e no tempo em que se fazia o almoço planejando o jantar
e no homem que ficava com os outros homens, nas noites longas, nos jogos de futebol,
nos olhos dos filhos
o homem que foi e voltou oceano a fora, que deitou sobre a areia do deserto
e riu e bebeu e comeu tâmara, o que o caminho plantava, e se admirava de tudo estar no lugar
aqui como lá do outro lado, que o tempo foi bom e generoso
que trouxe frutos, que também arrancou frutos do seu colo e o deixou órfão
penso no homem que trabalhou tanto tempo oferecendo mais tempo para a vida dos seres bichos
e que acolheu aqueles que passaram por sua porta
o homem gritava do seu jeito, ocupava a casa, a rua, a cidade, o mercado
os amigos do homem eram amigos de todos os segundos e em volta de um fogo passaram muitas vidas
o homem se foi, deixou castanha, jabuticaba, carambola, alecrim e manjericão, tudo plantado no chão firme e arejado no ar puro do seu cuidado
o tempo passa lento no início, quando se quer que seja rápido, que a árvore cresça, que se use calça longa e que os olhares vinguem num amor maior
o tempo passa rápido quando a vida com a sua beleza e frescor passa rápida
o homem se foi,
deixou o oásis
terça-feira, 13 de outubro de 2015
vento
o vento arranha o céu
cinza esparrama
empurra a porta
pra dentro
pra fora
o vento
corre
corre
nem sabe de quem
louco assobia
fino
e grosso
fino
e grosso
o vento roda sem trégua,
o lombo da água
o vento arrepia
pra cima
pra baixo
pra baixo
a onda,
grão de ervilha
o vento esganado
come
até unha roída,
quarta-feira, 7 de outubro de 2015
terça-feira, 6 de outubro de 2015
desenho
há um gesto perplexo
desenhando
há um corpo estático
observando
olho conciso
abraçado
no traço
sexta-feira, 11 de setembro de 2015
quinta-feira, 10 de setembro de 2015
quarta-feira, 26 de agosto de 2015
Súmula
Minha cabeça estremece com todo o esquecimento.
Eu procuro dizer como tudo é outra coisa.
Falo, penso.
Sonho sobre os tremendos ossos dos pés.
É sempre outra coisa, uma
só coisa coberta de nomes.
E a morte passa de boca em boca
com a leve saliva,
com o terror que há sempre
no fundo informulado de uma vida.
Sei que os campos imaginam as suas
próprias rosas.
As pessoas imaginam os seus próprios campos
de rosas. E às vezes estou na frente dos campos
como se morresse;
outras, como se agora somente
eu pudesse acordar.
Por vezes tudo se ilumina.
Por vezes canta e sangra.
Eu digo que ninguém se perdoa no tempo.
Que a loucura tem espinhos como uma garganta.
Eu digo: roda ao longe o outono,
e o que é o outono?
As pálpebras batem contra o grande dia masculino
do pensamento.
Deito coisas vivas e mortas no espírito da obra.
Minha vida extasia-se como uma câmara de tochas.
– Era uma casa – como direi? – absoluta.
Eu jogo, eu juro.
Era uma casinfância.
Sei como era uma casa louca.
Eu metias as mãos na água: adormecia,
relembrava.
Os espelhos rachavam-se contra a nossa mocidade.
Apalpo agora o girar das brutais,
líricas rodas da vida.
Há no esquecimento, ou na lembrança
total das coisas,
uma rosa como uma alta cabeça,
um peixe como um movimento
rápido e severo.
Uma rosapeixe dentro da minha ideia
desvairada.
Há copos, garfos inebriados dentro de mim.
– Porque o amor das coisas no seu
tempo futuro
é terrivelmente profundo, é suave,
devastador.
As cadeiras ardiam nos lugares.
Minhas irmãs habitavam ao cimo do movimento
como seres pasmados.
Às vezes riam alto. Teciam-se
em seu escuro terrífico.
A menstruação sonhava podre dentro delas,
à boca da noite.
Cantava muito baixo.
Parecia fluir.
Rodear as mesas, as penumbras fulminadas.
Chovia nas noites terrestres.
Eu quero gritar para além da loucura terrestre.
– Era húmido, destilado, inspirado.
Havia rigor. Oh, exemplo extremo.
Havia uma essência de oficina.
Uma matéria sensacional no segredo das fruteiras,
com as suas maçãs centrípetas
e as uvas pendidas sobre a maturidade.
Havia a magnólia quente de um gato.
Gato que entrava pelas mãos, ou magnólia
que saía da mão para o rosto
da mãe sombriamente pura.
Ah, mãe louca à volta, sentadamente completa.
As mãos tocavam por cima do ardor
a carne como um pedaço extasiado.
Era uma casabsoluta – como direi?
um sentimento onde algumas pessoas morreriam.
Demência para sorrir elevadamente.
Ter amoras, folhas verdes, espinhos
com pequena treva por todos os cantos.
Nome no espírito como uma rosapeixe.
– Prefiro enlouquecer nos corredores arqueados
agora nas palavras.
Prefiro cantar nas varandas interiores.
Porque havia escadas e mulheres que paravam
minadas de inteligência.
O corpo sem rosáceas, a linguagem
para amar e ruminar.
O leite cantante.
Eu agora mergulho e ascendo como um copo.
Trago para cima essa imagem de água interna.
– Caneta do poema dissolvida no sentido
primacial do poema.
Ou o poema subindo pela caneta,
atravessando seu próprio impulso,
poema regressando.
Tudo se levanta como um cravo,
uma faca levantada.
Tudo morre o seu nome noutro nome.
Poema não saindo do poder da loucura.
Poema como base inconcreta de criação.
Ah, pensar com delicadeza,
imaginar com ferocidade.
Porque eu sou uma vida com furibunda
melancolia,
com furibunda concepção. Com
alguma ironia furibunda.
Sou uma devastação inteligente.
Com malmequeres fabulosos.
Ouro por cima.
A madrugada ou a noite triste tocadas
em trompete. Sou
alguma coisa audível, sensível.
Um movimento.
Cadeira congeminando-se na bacia,
feita o sentar-se.
Ou flores bebendo a jarra.
O silêncio estrutural das flores.
E a mesa por baixo.
A sonhar.”
Herberto Helder
terça-feira, 25 de agosto de 2015
Partir sem ti não existe!
Voas aonde os olhos não podem alcançar,
E entre nós esse imenso céu...
A luz que ousamos reconhecer,
Pode cegar os nossos olhos,
Os mesmos que não alcançam o voo...
E na escuridão assumo, enfim, o risco,
De navegar num céu desconhecido,
Guiado apenas pelo que sinto:
A certeza de que não estou sozinho.
Encontrei quem me merece!
Nada de mim pode ser guerra,
Pois nada preciso fazer,
A não ser esperar...
Nenhuma promessa precisa ser feita:
A criação está jorrando!
A fonte foi aberta!
A força pode ser sentida,
E com um pouco de sorte,
Talvez meu peito não exploda.
Meu amor:
Neste branco papel,
Segura a minha mão,
E desenha o teu céu!
Voas aonde os olhos não podem alcançar,
E entre nós esse imenso céu...
A luz que ousamos reconhecer,
Pode cegar os nossos olhos,
Os mesmos que não alcançam o voo...
E na escuridão assumo, enfim, o risco,
De navegar num céu desconhecido,
Guiado apenas pelo que sinto:
A certeza de que não estou sozinho.
Encontrei quem me merece!
Nada de mim pode ser guerra,
Pois nada preciso fazer,
A não ser esperar...
Nenhuma promessa precisa ser feita:
A criação está jorrando!
A fonte foi aberta!
A força pode ser sentida,
E com um pouco de sorte,
Talvez meu peito não exploda.
Meu amor:
Neste branco papel,
Segura a minha mão,
E desenha o teu céu!
(Marcos Ungaretti}
sábado, 25 de julho de 2015
“Dientes de flores, cofia de rocío, manos de hierbas, tú, nodriza fina, tenme puestas las sábanas terrosas y el edredón de musgos escardados.
Voy a dormir, nodriza mía, acuéstame. Ponme una lámpara a la cabecera, una constelación, la que te guste, todas son buenas; bájala un poquito.
Déjame sola: oyes romper los brotes, te acuna un pie celeste desde arriba y un pájaro te traza unos compases para que te olvides. Gracias… Ah, un encargo, si él llama nuevamente por teléfono le dices que no insista, que he salido…”
Alfonsina Storni
deixo uma lâmpada acesa,
para quando encontrares palavra
possas reconhecer
na luz pouca, uma canção
deixo um verso, uma reza
num banco de praça qualquer
como vestigio branco da tarde
na lente clara do olhar
deixo um pássaro, uma pena
um jeito de voltar em câmera lenta,
no sol ou na chuva,
nesse tanto, um pedaço de espera
procuro pouso incerto
na soleira, um cão
terça-feira, 14 de julho de 2015
as tardes de abril- musica do Heron, letra minha
O sol arde às cinco
E chegas às seis
Me trazes calor
Me tiras o ar
Nas tardes de abril
Te abrigas em mim
O sal cai em gotas
Suor sobre ti
Que brilhas na luz
Metades de sol
Quem sabe de nós
Paisagem macia
Tua pele na minha
Em poros e pelos
Impressa inteira
Depois do luar
Desmanchar o dia
Saindo desenhas
Palavras no tempo
Sussurras nas horas
Silêncios de abril
E chegas às seis
Me trazes calor
Me tiras o ar
Nas tardes de abril
Te abrigas em mim
O sal cai em gotas
Suor sobre ti
Que brilhas na luz
Metades de sol
Quem sabe de nós
Paisagem macia
Tua pele na minha
Em poros e pelos
Impressa inteira
Depois do luar
Desmanchar o dia
Saindo desenhas
Palavras no tempo
Sussurras nas horas
Silêncios de abril
Samsiadade
de ashur
caminhante
cofiava barba e turbante
do tigre
serpenteante corpo
no ritmo que só ele ouvia
olho profético
na madrugada errante
levando a sombra
de companhia
caminhante
cofiava barba e turbante
do tigre
serpenteante corpo
no ritmo que só ele ouvia
olho profético
na madrugada errante
levando a sombra
de companhia
sábado, 11 de julho de 2015
quinta-feira, 9 de julho de 2015
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